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Festas de final de ano: lixo ou luxo?

Como ficam as questões do meio-ambiente e do barulho que se multiplicam nesta época?

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Cada ano que se aproxima do fim e lá vem uma enxurrada de turistas curtirem o Reveillon na praia. Ótimo para a cidade? Sim, claro que Porto Seguro vive do turismo e é normal ver praias lotadas nessa época do ano, mas será que há estrutura para recebermos tanta gente?

Segundo a Secretaria do Turismo, mais de 400 mil pessoas visitarão Porto Seguro neste verão e a taxa de ocupação hoteleira para o período do Reveillon ficará acima de 90%. De segunda a sexta, são realizados em média 15 vôos por dia e normalmente nos finais de semana, em torno de 60 operações diárias entre pousos e decolagens. Em alta temporada, esse número dobra chegando a 120.

Adriana Vieira, responsável pelas salas de embarque e desembarque do aeroporto completa que serão em torno de 58500 pessoas chegando a Porto Seguro entre 24 de dezembro a 8 de janeiro. Isso quer dizer, mais um terço de toda a população que já existe aqui.

E a agenda de festas e shows não é nada modesta! Nessas duas próximas semanas terão quase 200 eventos entre Porto Seguro, Arraial D’Ajuda, Trancoso, Caraíva e Santa Cruz de Cabrália. As atrações são desde “forrozinhos” e apresentações de bandas locais até grandes nomes que o público que vem para Bahia adora como Chiclete com Banana, Babado Novo, Parangolé, É o Tchan, Banda Eva, Marília Mendonça, Leo Santana e Gustavo Lima. Zeca Baleiro e Gabriel, O Pensador também passarão por aqui, e claro, Elba Ramalho que já está em casa.

Além desses e outros shows, o que prevalece em muitas festas grandes é a música eletrônica. E este ano, o DJ alemão, Robin Schulz comandará a pista no primeiro Reveillon realizado na bucólica Santo André! A agência Scheeeins, de São Paulo, que já fez festa até em Fernando de Noronha está lançando esta novidade, um novo destino no quesito baladas na região de Porto Seguro. Serão cinco dias de festa, do dia 27 a 31, intitulado de Reveillon Make a Wish, espera 800 pessoas por dia!

Paraísos ecológicos, maior riqueza brasileira que deve ser preservada

Segundo um dos sócios da Scheeeins, Daniel Becker, o número de pessoas foi limitado a 800 para não haver problemas com a hospedagem. O público destas festas é diferenciado, quer conforto e requinte. E eles terão um tratamento VIP. Foram contratadas várias equipes para o atendimento receptivo. Uma equipe para buscar no aeroporto e levar até os hotéis, casas e condomínios onde estiverem hospedados, outra equipe para fazer o serviço de Concierge e ainda terão os traslados para as festas e passeios de lancha, e helicóptero, por exemplo. Um luxo sem fim, na simples e pacata Santo André, quem diria?

Mas essa é a evolução natural, antigamente não havia nada em Trancoso, muito menos em Caraíva. Os lugares lindos e paradisíacos atraem turistas e eventos e isso acaba ajudando a comunidade local. A grande questão que está sendo discutida aqui é a preservação da paz e do meio-ambiente.

Vinícius Parracho, advogado e porta-voz do Observatório Social de Porto Seguro acompanha junto às associações de moradores que tem se incomodado com a quantidade de festas e barulho dos últimos tempos em Trancoso. Para ele a questão do som é um conflito de interesses entre quem realiza os eventos, aproveita e se diverte com eles e os moradores prejudicados com o barulho e que querem preservar o sossego local. Ele acredita que Arraial D’Ajuda já está mais adequado a estes eventos por existir festas há mais tempo e o número de festas também é bem reduzido se comparar ao de Trancoso e Caraíva que o boom é mais recente. Nos últimos cinco anos teve um aumento extremo nas festas por aqui, o que eram três festas viraram 55 em Caraíva na semana do Reveillon!

Tentaram proibir e coibir a realização de festas no Quadrado de Trancoso este ano. No início de 2017, o Ministério Público deu uma recomendação pra quem fosse fazer evento teria que adequar o local para proteger a acústica e não incomodar os vizinhos, como em muitos lugares que adotaram a Lei do Silêncio. Era para serem caçados os alvarás das casas que não se adequassem, mas os empresários, organizadores e frequentadores fizeram um movimento contra a medida e a Prefeitura não cumpriu, aí o Poder Judiciário interveio e alguns empreendimentos estão tentando se adequar. E o Reveillon em Trancoso está confirmado com festas em pousadas, hotéis, no Café de La Musique e por aí vai!

Kelly Paduin, presidente da Despertar Trancoso afirma que a ONG não é contra as festas, muito pelo contrário, promove cursos de capacitação em eventos. O que eles defendem é a adequação dessas produções para não gerar prejuízos principalmente ao meio-ambiente. A Despertar atua em cinco núcleos, turismo, esporte, meio-ambiente, artes e cultura e áudio-visual. Sua campanha mais recente é para a preservação do mangue. Atualmente a equipe está trabalhando duro no planejamento para 2018.

Sobre essa época Kelly enfatiza que é comum ter muitas festas no Reveillon no mundo inteiro, mas é necessário uma maior conscientização dos organizadores para a sustentabilidade do planeta. “As pessoas estão cada vez mais com o olhar imediatista e esquecem do futuro, isto que causa a confusão e o desequilíbrio”. A maior preocupação dos atuantes da Despertar em relação a essas festas é quanto ao lixo produzido: “normalmente já temos uma problemática que ainda não encontramos solução em relação à coleta seletiva do lixo, e nesses eventos o número de lixo produzido é muito maior, então os organizadores devem se preocupar com essa questão”. A ONG trabalha principalmente os jovens para a conscientização de proteção ao meio-ambiente, pois acredita que o problema também está na falta de informação e na distorção das informações.

Questionado sobre essas questões relevantes como o aumento do lixo e barulho, Daniel Becker afirma que a Scheeeins veio com uma proposta de ficar não só no Reveillon em Santo André, mas apoiar a agenda de turismo, econômica e social da vila. Para isso, investiram na capacitação de mão de obra local, e uma das principais ações foi montar o Projeto Lixo, onde será feita a coleta dentro da festa, realizada uma triagem e o lixo será levado para reciclagem. João Caldas, responsável por esta área de eventos na Scheeeins, conta que a empresa já tem um trabalho com os resíduos sólidos, através de uma parceria com a antiga Brasil Kirin, hoje adquirida pela Heineken. “Temos como padrão, em todas as nossas festas, separar e organizar o lixo para uma cooperativa parceira, que aqui no caso vamos usar a Recicla Verde, uma cooperativa cadastrada e estruturada para receber todos os tipos de resinados sólidos, vidro de diversas cores. Tomamos medidas na qual todo lixo recolhido pelo evento será direcionado para uma área exclusiva de separação e armazenamento desse material. Sendo enviado para o centro de reciclagem da cooperativa Recicla Verde”, explica João Caldas.

Sobre o som Daniel Becker completa “Respeitamos os limites de decibéis para a realização de eventos, ainda assim escolhemos dois locais para as festas que são isolados da Vila de Santo André para não causar nenhum transtorno à comunidade local”.

Praia e mata atlântica revelam a exuberância do sul do Brasil

E ainda com a questão de proteção e preservação da natureza, a Scheeins também tomou providências: “os terrenos das festas não são pé na areia. As pessoas têm acesso controlado à praia. Fizemos placas de sinalização para os cuidados com a restinga e cercamos e isolamos as áreas onde ficam os ninhos de tartarugas. Sabemos da importância das APA’s (Áreas de Proteção Ambiental). Estamos dando um primeiro passo em direção a uma maior integração e geração de benefícios para a comunidade local. Fizemos uma série de doações, como máquinas de costura para o Projeto Pescador de Sonhos, material para cultura popular Santo Antônio Boi Douro, ajudamos a Feira Criativa e um projeto de paisagismo da orla. Além da contratação de grupos de dança e cultura locais para performance nos eventos, como o Grupo de dança Orixás e Grupo IASA”, explica Daniel animado com o primeiro ano no local que ele já apelidou de paraíso.

Então, só nos resta torcer para que Porto Seguro e região tenham lindas festas e que os organizadores, trabalhadores e o público sejam conscientes e preocupados com a preservação destes locais que são realmente deslumbrantes, mas que se não cuidarmos destruiremos toda sua beleza!

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