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Baianart, dançando para a inclusão social e a liberdade.

uma dança cara, de arte refinada, usada para demonstrar o poder de glamour dos grandes reis e palácios, e como comemoração do nascimento de pessoas poderosas com o corpo perfeito e saudável, não poderia vingar como proposta de inclusão para crianças de cabelos crespos, com pele escura, moradoras dos boqueirões e de ruas esburacadas” comentou Tiago.

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A Associação Arte e cultura, instalada no bairro Baianão em Porto Seguro, desenvolve um programa, já bastante conhecido na comunidade, há oito anos, chamado “Baianart”, que consiste em ministrar aulas de ballet para crianças e adolescentes carentes.

O que poucos sabem, são as dificuldades, os preconceitos e a resistência enfrentados pelo projeto, que mesmo com todo este tempo de existência, ainda hoje se fazem presentes.

Falar do Baianart é falar de Tiago Maciel e vice versa. “Tiago do Baianart”, como é conhecido em toda a comunidade, chegou a Porto Seguro ainda jovem adolescente, vindo de Camacã, sua terra natal, logo revelou seu gosto pela dança, sendo dançarino durante dez anos nas barracas de praia de Porto Seguro.  Uma pessoa humilde, casado com Luiza Lopes, dois filhos, Valentina e Anthony Maciel, sempre focado em ajudar o próximo e ansioso em propiciar felicidade às pessoas, formou-se em pedagogia, depois fez pós-graduação em artes pela UNEB.

Militante político e defensor ferrenho da cultura para as comunidades de baixa renda, especialmente do bairro, hoje complexo Frei Calixto, Tiago estava pronto e capacitado para iniciar a bela jornada de inclusão social para os jovens do complexo através da dança.

Foi tempos de angústia e perseverança, sem apoio da sociedade local e, considerado uma utopia, uma ficção. A desmistificação da proposta era o maior desafio.  “A idéia de oferecer ballet clássico para crianças carentes, além de uma tremenda ousadia, era visto com enorme ceticismo por todos, já que a modalidade sempre foi voltada para a burguesia, uma dança cara, de arte refinada, usada para demonstrar o poder de glamour dos grandes reis e palácios, e como comemoração do nascimento de pessoas poderosas com o corpo perfeito e saudável, não poderia vingar como proposta de inclusão para crianças de cabelos crespos, com pele escura, moradoras dos boqueirões e de ruas esburacadas” comentou Tiago.

O desafio estava lançado! Era necessário demonstrar para a sociedade que a arte é para todos, independentes do credo, da cor e da condição social que ela viva.

Após um período de dependência de doações, a compensação chegou. Tornou-se uma referência em desenvolvimento de projetos sociais e capitão de apoio para entidade lusa.

Foi contemplado durante 04 anos com o apoio da Petrobrás. Conseguiu também patrocínio, por 01 ano, da Bahia Gás. Teve o apoio da organização paulista “Fundo Positivo” com o projeto “Arte cidadania e prevenção para jovens adolescentes”, enfim, uma sucessão de vitórias e reconhecimentos que só fizeram atestar a qualidade e seriedade do seu trabalho.

O outrora sonhador e hoje produtor cultural e artístico consolidado, reconhece que mesmo trabalhando com uma equipe técnica de alta qualidade, com parcerias importantes, com a participação efetiva dos pais dos alunos (seja como voluntários em prestação de serviços, ou como incentivo com uma cota mínima de recurso), o programa ainda não é auto-sustentável. A contribuição e o apoio do poder público são cruciais para a existência do mesmo.

São cerca de 800 crianças e adolescentes em todo o município. O programa possui núcleos no distrito de Pindorama, bairro Vila Valdete, além do Baianão, e segundo Tiago, vai funcionar, neste ano também, no Centro de Cultura de Porto Seguro, no centro da cidade, para atender crianças dos bairros carentes da cidade baixa.

As matriculas para participar estão abertas até o dia 20 de fevereiro, e é cobrada uma taxa simbólica de R$ 25,00, para aqueles que podem contribuir, para ajudar no transporte e alimentação dos monitores. Para se ter uma idéia as academias particulares cobram em torno de R$250,00 mensais pelo mesmo serviço.

As crianças e adolescentes de 03 a 18 anos são recrutadas em escolas públicas municipais e estaduais, implicando na obrigatoriedade do aluno está estudando para participar do programa.

O produtor lamenta a falta de investimentos do poder público municipal no ano de 2017, que considerou como um ano infeliz, o que dificultou enormemente a sobrevivência do projeto, e que espera que o novo prefeito, Beto Nascimento, tenha uma visão real da magnitude do programa. “Ver a arte como uma coisa supérflua é muito perigoso” enfatizou Maciel.

Muito cauteloso em sua avaliação política do momento que Porto Seguro vive, enumerou as catástrofes administrativas que o município enfrentou, iniciadas com o afastamento do ex-prefeito Ubaldino, seguido do suposto envolvimento do ex-prefeito Abade na morte dos professores, e culminada com o afastamento da ex-prefeita Claudia Oliveira, com suspeitas de envolvimento em fraudes com contratos e licitações públicas, como empecilhos que interferem direta e indiretamente na captação de recursos.

Finalizou afirmando que, apesar do Baianão ser um celeiro de cultura, com diversas associações sociais e culturais ( Bamups, Clave do Sol, Musicart, Dick Reis, etc.) criados pela própria comunidade e que turbina a economia local, não existe uma contrapartida efetiva e contínua do poder público municipal.

“Oferecer arte é um dever do município constituído em lei.

“Eu posso até sair da vida dessas crianças, mas jamais da história delas”. Sentenciou o idealista Tiago Maciel, que acredita que a democracia é para todos e não de poucos.

veja imagens de festivais do Baianart:

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