“Pedrão 2025” em Eunápolis gera revolta popular: festa tradicional se transforma em evento privilegiado e excludente
Tradicionalmente conhecido como uma das maiores festas populares do extremo sul da Bahia, o “Pedrão de Eunápolis”, realizado este ano entre os dias 26 e 29 de junho, transformou-se em um motivo de revolta e indignação entre os moradores da cidade. O que antes era sinônimo de cultura popular, acesso gratuito e celebração coletiva, este ano se converteu em um evento elitizado, com cobranças abusivas e forte exclusão social.
Pela primeira vez na história, o evento foi realizado em espaço fechado: o Estádio Municipal Araujão, que foi completamente adaptado para a montagem de arquibancadas pagas, camarotes luxuosos e áreas VIP. Os ingressos variaram entre R$ 30 e R$ 50 para o acesso mais simples, enquanto os valores dos camarotes ultrapassaram os R$ 890 — valores considerados surreais pela população local, composta majoritariamente por trabalhadores e pequenos comerciantes.
Além disso, os comerciantes que antes lucravam com a venda de alimentos e bebidas nas proximidades da festa, este ano enfrentaram duras restrições e tiveram que pagar cerca de R$ 250 para ocupar espaços externos ao circuito. “Sempre trabalhei no Pedrão vendendo espetinho e refrigerante. Este ano me cobraram para montar uma barraca fora do estádio. Dentro, nem pensar… não tive chance nem de tentar”, desabafa Dona Cleusa, comerciante há mais de 20 anos na cidade. Veja o vídeo abaixo:
A insatisfação é generalizada. Moradores, ambulantes, artistas locais e até turistas relataram frustração com o formato adotado pela gestão municipal. “O Pedrão sempre foi uma festa do povo. Hoje, virou um festival de camarotes. A cidade está sendo vendida para empresários e artistas milionários, enquanto o povo assiste de fora, sem direito à própria festa”, criticou João Batista, morador do bairro Pequi.
A polêmica se agrava diante de um cenário político turbulento. A atual gestão municipal, que já responde a investigações por improbidade administrativa em mandatos anteriores, também tem seu resultado eleitoral sob análise da Justiça. A contratação de atrações nacionais com cachês milionários, em meio a serviços públicos precários e ausência de transparência sobre os gastos com o evento, aumentou ainda mais o descontentamento da população.
A festa, que contou com artistas renomados como Ivete Sangalo, Bell Marques, Maiara e Maraísa, Ana Castela, Sandro Lúcio, Zé Neto e Cristiano, Henrique e Juliano, Cacau com Leite, dentre outros, foi vista por muitos como um “presente de grego”. As redes sociais fervilharam de críticas, memes e vídeos denunciando a elitização da festa. Em grupos locais, expressões como “Pedrão do Povo Rico” e “Pedrão da Exclusão” se tornaram virais.
O Ministério Público ainda não se pronunciou oficialmente sobre os custos do evento e as denúncias de favorecimento comercial e abuso econômico, mas lideranças comunitárias já sinalizam que devem protocolar representações formais nos próximos dias.
Ao que tudo indica, o Pedrão 2025 será lembrado não pela alegria dos forrós e quadrilhas, mas pela sensação de traição a uma tradição que, até então, era sinônimo de união, identidade e celebração popular.