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Secretário de Turismo de Porto Seguro diz que prejuízo com coronavirus já chega a R$500 milhões

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Na mesma medida em que o número de infectados com o novo coronavírus aumenta, cresce também a quantidade de vítimas da crise provocada pela pandemia. O turismo, um dos principais setores da economia da Bahia, entrou em colapso e tende a sofrer ainda mais durante os festejos de Semana Santa, período em que tradicionalmente recebe turistas de todos os cantos do país.

Em Salvador a ocupação dos hotéis caiu abaixo da metade, em Porto Seguro o prejuízo já é estimado em R$ 500 milhões, e as agências de viagem afirmam que em abril o cenário vai piorar. Férias coletivas, redução de salários e até demissões já estão ocorrendo em todos os cantos do estado, e o horizonte não é nada animador.

As cidades que vivem exclusivamente dessa atividade ou nas quais o turismo tem importância na arrecadação foram as primeiras a sentir os solavancos da economia. Salvador liderar o ranking de destino turístico no estado, mas é seguida por cidades como Porto Seguro, Itacaré, Mata de São João, Ilhéus, além de regiões como Morro de São Paulo, Chapada Diamantina, Linha Verde e Vale do São Francisco. Em 2018, o turismo foi responsável por 3,8% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do estado.

Cidade histórica em Porto Seguro

O primeiro impacto da crise foram os cancelamentos dos pacotes de viagem, o que deixou muitos hotéis e pousadas com reservas abaixo da metade. Em Salvador, Porto Seguro e Morro de São Paulo, por exemplo, muito deles fecharam. Isso provocou a segunda onda, cortes de salários e demissões, em hotéis, bares, restaurante e em toda a cadeira produtiva. O comércio foi atingido pela terceira onda, com a queda nas vendas.

Em Porto Seguro, foram confirmados até a manhã de sexta-feira (3) dez casos da Covid-19. Oito desses pacientes receberam alta médica e dois ainda estão em acompanhamento. O medo de que a doença se espalhe fez a prefeitura renovar na semana passada o decreto de isolamento por mais 15 dias, mantendo a cidade fechada, mas a realidade é que mesmo que a decisão fosse derrubada não mudaria muita coisa.

Os turistas sumiram. E a cidade que vive 80% do turismo ficou paralisada. Ruas vazias. Praias desertas, hotéis e lojas fechados. Segundo o secretário municipal de Cultura e Turismo de Porto Seguro, Paulo César Magalhães, o prejuízo até agora está calculado em cerca de R$ 500 milhões.

“Nossa cidade não tem mais baixa estação, temos sempre alta ou média temporada. A alta estação começa em dezembro e vai até março, ou até a semana santa, em abril. Então, esses são meses bons e que estão sendo prejudicados pela crise. São 25 mil pessoas que atuam direta ou indiretamente com o turismo e que estão sem saber o que fazer”, afirmou.

Hotéis vazios
Dos 1,8 milhões de turistas que visitam a cidade todos os anos, 800 mil aparecem entre dezembro e março. Na semana passada, a maioria dos hotéis estava fechada e um grupo de 40 turistas argentinos era o único na cidade, isso porque eles ainda não tinham conseguido um vôo para voltar para casa. “A situação está muito complicada. Em 63 anos de vida nunca vi nada parecido”, contou o secretário.

A cidade tem cerca de 500 hotéis e pousadas e oferece 50 mil leitos. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria e Hotéis (ABIH) em Porto Seguro, Vinicius Oliveira, os poucos estabelecimentos que ainda estão em funcionamento não tem mais que 20% de ocupação.

“É um momento delicado. É uma crise mundial e a maioria dos donos de hotéis entende que tem que esperar essa crise passar. As pessoas só vão voltar a viajar quando se sentirem seguras. É um momento de incerteza muito grande”, disse.

A situação é parecida com a de Salvador, e está tão ruim que a ABIH-BA considerou o mês de março de 2020 o pior para o turismo na história. A entidade afirmou que no mesmo período do ano passado a taxa de ocupação na capital era de 66% e que este ano foi de 37%. A queda de quase 30% ficou ainda mais evidente na última semana do mês quando apenas 4% dos leitos estavam com hóspedes.

Casos confirmados
Na semana passada, funcionários da empresa AR Turismo, uma das prestadoras de serviço da CVC, em Porto Seguro, foram surpreendidos com o aviso de demissão coletiva. O momento em que eles foram informados da decisão foi registrado em vídeo. Preocupação é a palavra que define o semblante dos empregados e dos patrões.

Em comunicado, a CVC frisou que a decisão de desligar os colaboradores foi da própria AR Turismo, e que a CVC não tem funcionários em Porto Seguro nem fez demissões em nenhuma das unidades. Mas a empresa disse também que reduziu a jornada de trabalho em 50% e os salários dos trabalhadores, pelos próximos três meses, e proibiu novas contratações como medidas para evitar demissões.

Já a AR Turismo afirmou que a ação foi necessária por conta da crise e para garantir o pagamento dos direitos trabalhistas. O número de funcionários dispensados não foi divulgado.

“Tendo em vista o cenário de redução de vôos e fechamento de hotéis, o que impossibilita a realização de atividades de turismo em Porto Seguro, a AR Turismo esclarece que está suspendendo os contratos de trabalho com uma parte dos seus profissionais. A AR Turismo honrará com todas as suas responsabilidades, incluídas aí as verbas rescisórias devidas aos seus funcionários, em conformidade com sua história de 30 anos de atuação”, diz a nota.

Procurada, a Secretaria Estadual do Turismo (Setur) informou que ainda não é possível fazer uma estimativa dos prejuízos, mas reiterou que toda a economia está sendo prejudicada e o turismo é um dos setores mais sensíveis a qualquer crise.

Segundo o órgão, durante todo o ano de 2019, a Bahia registrou um fluxo de 15,7 milhões de viajantes. No inicio de março, o setor estava com o mesmo desempenho da média histórica das últimas duas décadas. Entretanto, houve uma retração de 30% na taxa de ocupação registrada pelos hotéis. O setor é responsável por cerca de 110 mil empregos formais.

Recuperação
Os empresários estão pouco otimistas em relação ao tempo que será necessário para superar a crise. Muitos falam que o setor só voltará a vender em julho e outros dizem que somente depois de agosto essa recuperação vai começar a acontecer. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Agencias de Viagens (ABAV), Jorge Pinto, o mês de março registrou mais de 80% de queda nas vendas.

“Tivemos muitos cancelamentos de pacotes e quase não houve remarcação. Nesse primeiro momento, tivemos que trabalhar para trazer de volta as pessoas que estavam fora do país, por conta dos cancelamentos de vôos, mas conseguimos. Fizemos reuniões também com o PROCON e com o Juizado de Pequenas Causas para encontrar uma forma de ajudar os clientes e os agentes de viagens ao mesmo tempo”, contou.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Turismo do Estado da Bahia (SINDETUR), Luiz Leão, a virada para cima na curva do turismo só deve acontecer a partir de agosto. Ele considera o mês de março perdido para o turismo e disse que abril será ainda pior.

“Em março, tivemos cancelamentos dos pacotes de fevereiro, e não vendemos nada. Então, em abril o movimento será ainda pior. As perdas chegaram a 100% em muitas empresas e isso não vai mudar nos próximos meses. O que pedimos aos empresários é calma para não se precipitar e tomar decisões desesperadas”, afirmou.

Até o momento, os patrões têm optado por dar férias coletivas aos funcionários e em dividir o pagamento dos salários com o Governo Federal. Leão acredita que as primeiras viagens de turismo após a crise serão, na maioria, nacionais. “Os países estrangeiros vão oferecer resistência para abrir as fronteira, mas acreditamos que com o tempo as coisas devem melhorar”, disse.

Por Informações: Correio 24 Horas

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