Após 25 anos do assassinato do indígena oriundo da tribo “pataxó hã hã hães”, com aldeia em Porto Seguro, o cenário para os povos originais dá sinais claros de deteriorização, enquanto os ataques avançaram, de forma expressiva e, agora, com apoio institucional, vistos nos descumprimentos sistemáticos de leis consolidadas, e na recusa imoral dos governos em concluir as demarcações de terras indígenas, primordial para a sobrevivência dos costumes, hábitos, cultura e as próprias etnias.
No dia 20 de abril de 1997, o líder indígena Galdino Jesus dos Santos, da etnia Pataxó, foi queimado vivo em um ponto de ônibus na 704 Sul. Ele estava em Brasília para participar de manifestações pelo Dia do Índio.
Galdino havia chegado tarde de uma reunião e não conseguiu entrar na pensão onde estava hospedado. Resolveu, então, dormir em um ponto de ônibus bem ao lado. Foi quando um grupo de cinco rapazes, todos no mesmo carro, jogou álcool e ateou fogo no que eles achavam ser “apenas um mendigo”. Um homem que passava pelo local anotou a placa do automóvel e entregou à polícia.
O pataxó teve 95% do corpo queimado e morreu horas depois no hospital. Os jovens do carro foram logo identificados: Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira, Antônio Novély Vilanova, Max Rogério Alves e Gutenberg Nader Almeida Junior, o único menor de idade. Todos foram presos e condenados a 14 anos por homicídio triplamente qualificado. O menor cumpriu 4 meses de medida socioeducativa. O julgamento mobilizou o país e chamou a atenção pelos criminosos serem de famílias influentes e com alto poder aquisitivo em Brasília.
Pela gravidade do crime, os detentos não poderiam ter acesso a vários benefícios da lei, mas, já no ano seguinte, receberam autorização para exercer funções administrativas em órgãos públicos. Três dos rapazes chegaram a ser flagrados pela imprensa bebendo em um bar e voltando para o presídio em seus próprios carros, sem nenhum tipo de revista.
Em 2004, eles ganharam liberdade condicional, o que gerou muita polêmica em todo o Brasil. E o que aconteceu com os criminosos nos anos seguintes?
Todos foram aprovados em concursos públicos. Tomás Oliveira é técnico legislativo no Senado Federal. Eron Chaves é agente do Detran-DF. Antônio Novély é servidor da Secretaria de Saúde do DF. Max Rogério entrou para o TJDF e, atualmente, trabalha em um escritório de advocacia particular. Gutenberg Náder foi aprovado para a Polícia Civil do DF em 2014, mas terminou rejeitado na análise de vida pregressa feita pela instituição. No ano passado, passou no concurso da Polícia Rodoviária Federal e hoje é agente da corporação.
O local do crime foi batizado de Praça do Compromisso e abriga duas esculturas relativas ao assassinato do índio Galdino.
Por Informações: Jornal de Brasília