Igualdade de gênero: projeto de vereador desvia o assunto e contribui para fomentar a discriminação

Foi o bafafá da semana o embate entre o prefeiturável Chico Cancela (PSOL) e o vereador Kempes Neville, o Bolinha (PPS). Noticiado pelas mídias sociais e sites locais, a polêmica que envolve os políticos tem como principal questão a discussão da igualdade de gênero nas escolas.

O Projeto de Lei 023/2018, de autoria do edil, dispõe sobre “a vedação do ensino de ideologia de gênero para crianças e adolescentes na rede de ensino do município de Porto Seguro”.

É tão absurdo pensar que o vereador se prestou a escrever algo que dói só de ler. O vereador, realmente, não deve ter lido uma linha sobre o tema “igualdade de gênero”. Talvez, esteja seguindo o discurso do candidato a presidente, Jair Bolsonaro, o que deve receber seu apoio nessas eleições.

O vereador, em seu disparate, conseguiu associar comunismo e práticas de imoralidade dentro do conceito de igualdade de gênero. Logo o comunismo?! É importante lembrar que a política de Vladimir Putin, na Rússia, é de fortalecer o velho conceito de família. A Rússia, provavelmente, é o pior país para um homossexual viver na Europa (Pelo menos a parte que lhe confere a este continente).

Mas esse foi só a primeiro entre os inúmeros desatinos que o vereador saiu proferindo, desviando o foco da discussão central sobre a igualdade de gêneros. Foi tanta bobagem, que me senti na obrigação de pesquisar novamente sobre o tema. Fiquei tão intrigado, porque não consigo acreditar que alguém possa falar sobre um assunto tão pertinente, sem que antes saiba, realmente, do que está falando. E mais, chega a criar um projeto que só serve para desviar a atenção sobre o tema e contribuir ainda mais para o preconceito e discriminação.

O projeto é um desserviço social, de um empobrecimento espiritual sem precedentes para as minorias do nosso município. Para esclarecer ao vereador e a todos que levantam a bandeira, utilizando a evasiva de que fazem isso em defesa da família, saibam que discutir a igualdade de gêneros na escola é valorizar sua mãe, irmã, prima, amiga, enfim, todas as mulheres nesse país. É lutar contra o machismo e colocar as mulheres no seu devido e perfeito lugar na sociedade, recebendo o que os homens recebem, se os cargos forem os mesmos. Essa é a questão principal da igualdade gêneros. É formar consciência nas crianças sobre diversas minorias que sofrem nesse país, seja por ser mulher, ou por terem escolhas sexuais diferentes.

Faço das palavras de Chico Cancela as minhas, quando diz que “a lei da mordaça que o Bolinha quer, vem com a incapacidade de perceber o que é o conceito de gênero. Para ele, enviesado por princípios fundamentalistas, que não reconhece que a sociedade brasileira é formada, baseada no machismo, na misoginia e no preconceito. Não podemos colocar esse projeto como  debate central sobre igualdade de gêneros. Para nós, a escola é um espaço para discutir as desigualdades e contribuir para diminuição delas. Existe uma violação flagrante dos direitos humanos, no número de mulheres estupradas e violentadas nesse país”, retirado do vídeo gravado com o militante do PSOL, pelo site Namídia.

Quando eu vejo pessoas apoiando o vereador, primeiro me mostra a total falta de informação de nossa sociedade, além de me levar para dentro da Bíblia e perceber que em outros tempos, seriam as mesmas pessoas que um dia atiraram pedras em Maria Madalena. Algumas só fazem, porque o todo mundo faz.

O que o vereador propõe não é amor, mas a segregação, o preconceito e a discriminação. A constituição da família pode ser feita de inúmeras maneiras e não apenas essa que ele acredita. A verdade dele não condiz com o amor em sua plenitude, pois coloca seus “valores”, crenças e sei lá mais o que eles pregam nesses discursos conservadores e dogmáticos, repleto de preconceito, que nada contribuem para a sociedade.

Bolinha chamou Chico Cancela de ativista da imoralidade, pois fica mais fácil nutrir o pensamento com insulto, do que com argumentos.