Mais de 33 milhões de brasileiros passam fome, diz pesquisa
Uma pesquisa divulgada nesta 4ª feira (8.jun.2022) diz que cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil.
O número corresponde a quase o dobro do registrado em 2020. O dado é parte do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
Eis a íntegra da pesquisa:
Atualmente, mais da metade (58,7%) da população brasileira vive com insegurança alimentar. De acordo com o Penssan, os principais fatores responsáveis pelo crescimento do número de brasileiros que sofre com insegurança alimentar, em diferentes níveis, são “a continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora na crise econômica, o aumento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da covid-19”. “O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”, afirma o relatório.
O 1º inquérito, divulgado em abril do ano passado, estimava que cerca de 19 milhões de pessoas não tinham o que comer em 2020. Em 2018, eram 10,3 milhões.
Os resultados da pesquisa divulgada nesta 4ª dizem que 41,3% dos domicílios consultados estão em situação de segurança alimentar, enquanto em 28% havia incerteza quanto ao acesso aos alimentos e à qualidade da alimentação, considerada insegurança alimentar leve.
A restrição quantitativa aos alimentos foi registrada em 30,7% dos domicílios, sendo que em 15,5% deles as pessoas convivem com a fome, classificada como insegurança alimentar grave.
Em termos populacionais, de acordo com o levantamento, são 125,2 milhões de brasileiros em domicílios com insegurança alimentar e mais de 33 milhões na forma mais grave.
A Rede Penssan utilizou a Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar) –mesma utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)– para fazer a classificação. Nela, é considerada segurança alimentar o acesso pleno e regular a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
Já a insegurança alimentar é dividida em 3 níveis:
-Leve – quando há preocupação ou incerteza quanto o acesso aos alimentos no futuro, além de queda na qualidade adequada dos alimentos para não comprometer a quantidade;
-Moderada – quando há redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação;
-Grave – quando há ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio, incluindo crianças. Nesse nível de insegurança alimentar, as pessoas convivem com a fome.
Ao todo, os pesquisadores fizeram entrevistas presenciais com adultos em 12.745 domicílios brasileiros, nos 26 Estados e no Distrito Federal, nas zonas rural e urbana. A coleta de dados foi realizada de novembro de 2021 a abril de 2022.
PERFIL DOS BRASILEIROS COM FOME .
O levantamento verificou que a desigualdade no acesso aos alimentos é mais comum em domicílios rurais, onde 18,6% enfrentam a fome. Entre as famílias com insegurança alimentar grave, 25,7% vivem na região Norte, e 21%, no Nordeste.
Também de acordo com o relatório, a fome está presente em 43% das famílias com renda per capita de até 1/4 do salário mínimo, e atinge mais as residências em que mulheres e/ou pessoas que se denominam de cor preta ou parda são chefes da família.