Produção menor de azeite de dendê e subida dos preços ameaça o acarajé na Bahia
Um problema vem ameaçando uma das mais importantes tradições da Bahia: a escassez do óleo de dendê, um dos principais ingredientes do acarajé, especialidade gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira e um dos símbolos do estado. De acordo com uma matéria do jornal Correio 24 horas, o preço do dendê registrou aumento de 140% somente no último mês de agosto. Isso implica em muitos problemas, pois os produtores do acarajé já vinham sofrendo com a pandemia do novo coronavírus, que impactou diretamente o turismo e o dia a dia das vendas, já que as ruas passaram a ficar mais vazias com o isolamento social. Além disso, eventos ficaram impossibilitados de acontecer, o que aumenta ainda mais o prejuízo.
Com o preço do item em alta, a produção em si já se torna mais custosa, o que reflete em aumentos no valor final. Isso é prejudicial tanto para comerciantes quanto para consumidores, tendo em conta a crise financeira e os números altos de desemprego no Brasil atualmente.
Escassez
Para saber mais sobre a “crise do dendê”, procuramos a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABA M), que por meio de Rita Santos, Presidente Conselho Executivo, confirmou que a produção do óleo de dendê está abaixo do esperado no ano de 2020.
“Nos últimos tempos, a produção de dendê vem caindo. No início deste ano, o valor do azeite começou a aumentar. Quando chegou a pandemia, os preços pararam de subir porque parou de vender, o comércio deu uma caída significante. No primeiro mês da pandemia, o meu comércio caiu 80%, com o valor do azeite se estabilizando, chegando a cair um pouco. Mas desde junho começou a faltar o dendê absurdamente e o preço começou a subir consideravelmente toda semana. Com isso, começamos a ter que buscar azeite do Pará que o da região aqui na Bahia estava em falta e com a subida dos preços chegou a faltar nos estabelecimentos”, relata.
o impacto da crise do produto nos preços do acarajé é inevitável; assim funciona a economia, em qualquer setor. Se os insumos ficam difíceis ou mais caros; o produto final também encarece. E há as dificuldades de muitas baianas em equalizarem os aumentos, visto que fica inviável para muitas delas um aumento proporcional. Aqui em Porto Seguro, por exemplo. O quitute tem preços variados entre R$5,00 a R12,00, dependendo do local.
Bel, que atende na ladeira do Baianâo, pratica preços mais modestos e atende uma população com menor poder aquisitivo. Já as “baianas que atendem no centro, como o formidável e suculento: Acarajé da Gersonita, na Praça do Relógio, os preços são maiores, chegando a R$12,00 a unidade Dependendo do lugar que a baiana vende, fica mais fácil ou mais difícil aumentar o acarajé.
Gersonita faz parte de um seleto e formidável grupo de cerca de cinqüenta baianas de Porto Seguro que têm o orgulho e a admiração das mais de 600 baianas que compõem a Associação de Baianas do Acarajé do Estado da Bahia e que entendem que o acarajé não é uma comida comum, e sim; um símbolo identitário do país. (relembre aqui)
É sempre bom lembrar que o dendezeiro é uma palmeira existente nas regiões tropicais e originária da África.
A cultura foi introduzida no continente a partir do século XV, e produz o óleo conhecido no Brasil como azeite de dendê, e no mundo, como Palm Oil, sendo utilizado para diversos fins. Em parte, a falta de azeite de dendê decorre da redução da safra do fruto na Bahia, 20% a 30% se comparado com 2019, o segundo maior produtor do país. Além disso, estamos na entressafra, que só vai normalizar em meados de dezembro.
A prática das baianas de tabuleiro é uma tradição do país, inclusive tombada pelo IPHAN, assim o impacto é maior que podemos imaginar.
“O acarajé não é apenas uma comida, é parte da história de formação do nosso país e ressalta a influência positiva dos saberes da África na nossa cultura. As ‘comidas de dendê’ vieram junto com nossos antepassados nos navios negreiros e hoje fazem parte da culinária brasileira, não tem como nem mensurar o valor disso.
Por informações: Revista Economia UOL
Reportagem de Maic Costa