A Justiça do Maranhão determinou nesta semana a prisão do prefeito de Turilândia, Paulo Curió (União Brasil), da vice-prefeita Tânia Mendes (PRD) e de todos os 11 vereadores da Câmara Municipal, em um dos casos de corrupção mais gritantes já registrados no interior do estado e no país.

A ex-vice-prefeita Janaina Soares Lima também é apontada como peça central do esquema, especialmente no núcleo empresarial. Ela teria atuado como controladora de fato do Posto Turi, empresa que mais recebeu recursos do município. Ela ainda:
- Atuava como procuradora da empresa, mesmo exercendo cargo político.
- Participava diretamente da retenção de percentuais dos contratos.
Segundo os autos, diálogos interceptados mostram que Janaina tratava os valores retidos como um “imposto” dentro do esquema, além de cobrar diretamente o prefeito pela liberação de pagamentos.
Janaína e seu marido, Marlon Zerrão – que é tio da atual vice-prefeita – tiveram um papel central no desvio de recursos. O Posto Turi recebeu R$ 17.215.000,00 dos cofres públicos de Turilândia, segundo o MP-MA.
Janaína e Marlon firmaram um acordo com o prefeito Paulo Curió para reter 10% dos valores dos contratos do Posto Turi. Esse valor era destinado ao pagamento da faculdade de medicina de Janaína Lima, enquanto os 90% restantes eram entregues ao prefeito ou a quem ele indicasse.

A decisão é resultado da Operação Tântalo II, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que desvendou um esquema de desvio de aproximadamente R$ 56,3 milhões dos cofres públicos do município.
Segundo o Ministério Público do Maranhão (MP-MA), o esquema funcionava por meio de empresas de fachada e contratos fraudulentos, com emissão de notas fiscais sem a prestação de serviços e direcionamento de licitações, beneficiando diretamente os agentes públicos envolvidos e seus aliados.

O prefeito Paulo Curió, apontado como o líder da organização criminosa, chegou a ficar dois dias foragido antes de se entregar à polícia. A vice-prefeita Tânia Mendes, assim como empresários, servidores e agentes políticos da cidade, também tiveram mandados de prisão expedidos ou foram detidos em São Luís e em outras cidades próximas.
Um rombo milionário que virou um “salto administrativo”
Para quem achava que “gestão eficiente” significava cuidar de saúde, educação e infraestrutura, Turilândia parece ter reinventado a expressão: eficiência em desviar dinheiro. Afinal, R$ 56 milhões poderia significar escolas reformadas, postos de saúde equipados, estradas recuperadas e serviços públicos funcionando de verdade — mas, ao invés disso, virou motivo de manchete nacional.
Com praticamente todo o Executivo e Legislativo da cidade fora de combate, a administração municipal ficou à beira do caos: é como se uma peça essencial de um relógio fosse arrancada e tudo parasse de funcionar. A Justiça, aparentemente ciente desse risco, determinou que o presidente da Câmara, José Luís Araújo, assuma a prefeitura “interinamente”, apesar de ele próprio estar sob investigação e ainda não afastado oficialmente.
Quem fica no comando?
Na prática, quem agora tenta “segurar as pontas” da administração é o presidente da Câmara Municipal, que assume interinamente a prefeitura, enquanto o restante da cúpula política foi afastado, preso ou monitorado por tornozeleira eletrônica.
Alguns vereadores tiveram suas prisões convertidas para regime domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, justamente para não “paralisar completamente” os serviços públicos — mas muitos ainda figuram como alvos investigados ou foragidos.
Críticas irônicas e o cenário pós-queda
Em Turilândia, a definição de ‘gestão pública’ ganhou um novo significado: aqueles que deviam governar agora permanecem longe do município — na prisão ou monitorados eletronicamente — enquanto um presidente de Câmara assume na tentativa de não deixar tudo virar um filme de terror administrativo. Isso leva a população a se perguntar com humor amargo se a cidade agora terá um novo modelo de administração: com tornozeleiras eletrônicas como “novo traje oficial” dos parlamentares.
O caso, que deve seguir tramitando na Justiça, continua sob investigação para identificar a extensão total dos prejuízos ao erário e a responsabilidade individual de cada um dos envolvidos, incluindo empresários e possíveis operadores do esquema corrupto.
Empresas usadas para desviar dinheiro
- Posto Turi – Empresa que mais recebeu recursos públicos. Firmou dezenas de contratos considerados incompatíveis com a realidade do município.
- Luminer Serviços
- Climatech Refrigeração
- SP Freitas Júnior
- JEC Empreendimentos
- Potencial Empreendimentos
Segundo os autos, essas empresas “emitiam notas fiscais sem contraprestação real e devolviam os valores ao núcleo político”.