Índios protestam contra restrição à circulação de buggys e Caraíva vive de sua magia e a ambição que a consome
Caraíva foi por muito tempo apenas uma vila de pescadores; uma mini- península, lugar paradisíaco, com seu rio e suas praias exuberantes. Naturalmente tão bela que, nas últimas décadas, Caraíva despertou atenção de todos, brasileiros e gringos, numa supervalorização que, atualmente, ultrapassou todos os limites da ambição.
A vila dos pescadores com seus casarios simples, rústicos e tão charmosos que, há quatro décadas, não valiam sequer o valor gasto nas suas respectivas construções, hoje, quase todos já não pertencem mais aos seus primeiros proprietários. Boa parte desses moradores, de família de pescadores, migrou para Nova Caraíva, entre outros locais periféricos. Enfim, poucos sobraram, ou ainda resistem a vender suas moradias, mesmo diante às ofertas, por vezes grandiosas, em dólares ou em euros.
Esse grupo de moradores, dos que ainda resistem por lá, e dos que já migraram para locais periféricos, faz parte da classe trabalhadora, exerce atividade no turismo, da construção etc. São canoeiros, camareiras, cozinheiras, garçons, recepcionistas, pedreiros, marceneiros e por aí vai.
No meio do caminho, lá pelos anos 80 para 90, o local também era habitado por índios e, em 1992, a área indígena Barra Velha foi demarcada e homologada pelo, então presidente, Fernando Collor de Melo. A área engloba a Aldeia Xandó, e tem em seus limites, extensa faixa litorânea privilegiada com praias paradisíacas.
Há tempos chegam denúncias de vendas de terrenos de área indígena, numa corretagem criminosa, uma vez que as terras demarcadas são de usufruto dos índios locais e não podem ser vendidas e arrendadas.
Na reportagem do Jojô Notícias, postada no dia 26 de outubro do ano passado, um denunciante afirmou que existem índios, não índios, moradores e estrangeiros, envolvidos na tal prática criminosa.
Mas, infelizmente, não é só isso, a acelerante supervalorização dos imóveis em Caraíva, cria uma série de contextos terríveis ao distrito de Porto Seguro, que vai desde crimes ambientais à falta de segurança, sensação de medo aos moradores, em casos que envolvem roubos, estupros e assassinatos.
Vale ressaltar que Caraíva ganhou destaque negativo na mídia, recentemente, com o estrupo de uma estrangeira e o estupro e o assassinato de uma adolescente de 14 anos.
O próprio administrador do distrito já propagou tiros de revólver por aí.
Para cada um desses casos, a comunidade protestou.
Agora, para completar, hoje, 8 de fevereiro, os índios estão realizando manifestação, que teve a solidariedade dos canoeiros, que começou desde as cinco horas da matina, contra a restrição à circulação de buggys na vila.
Quem vem por Nova Caraíva não conseguiu atravessar hoje para a vila, uma vez que é por meio das canoas, o único acesso.
E, mais uma vez, a vila entra em conflito entre a conservação ambiental e os aspectos sócios econômicos da comunidade.
Nas reuniões do Conselho Municipal de Meio Ambiente que, por vezes nossa reportagem participou, o que não faltam são relatos de conselheiros, representantes de Caraíva, quanto à superlotação no período de alta temporada, provocando um acúmulo assustador na produção de lixo, poluindo o rio e as praias, enquanto ocorrem festas luxuosas e caríssimas.
O distrito vive nesse contraste, de um clima tenso da ganância exacerbada, com a magia de um lugar inesquecível.