Um dos territórios mais antigos da tribo dos Pataxós, na região de Porto Seguro (BA), ficou completamente isolado em meio à forte chuva que acometeu o sul da Bahia e o norte de Minas Gerais. O único acesso era por meio de uma ponte de madeira, que foi derrubada pela tempestade e ilhou 14 aldeias —entre elas, Boca da Mata, que concentra boa parte dos anciãos pataxós. “É o território que tem a maior população do nosso povo, são muitas famílias pataxós ali. A nossa maior preocupação é justamente com nossos anciãos, queríamos saber a reação deles a essa catástrofe que está acontecendo”, relata ao UOL Thyara Pataxó, liderança indígena da aldeia Pataxó Novos Guerreiros, que não ficou isolada.
Foi tudo destruído. Não tem como, de forma alguma, ter acesso às comunidades, afirma”Thyara Pataxó, liderança indígena da aldeia Pataxó Novos Guerreiros.
A ponte rompeu há cinco dias, isolando por completo uma comunidade que sobrevive da venda e escambo de artesanato. Distante 134 km do centro de Porto Seguro, a área é cercada por águas. “Se não é rio, é mar”, diz Thyara. As condições da população ilhada, que já vivia de forma precária antes, mobilizou a juventude dos pataxós a tentar encontrar um meio de chegar até o local, agora acessível apenas por via aérea.
“Se for necessário, seguimos até onde for possível de carro e depois fazemos o resto do trajeto a pé. Precisamos chegar lá”, explica a líder. Me corta o coração. Eles pedem ajuda e não posso ajudá-los. As estradas estão interditadas, não tem como chegar lá, Completa”Thyara Pataxó, liderança indígena da aldeia Pataxó Novos Guerreiros.
Enquanto reúnem o suficiente para montar cestas básicas e levar até o território isolado quando a inundação começar a abaixar, as lideranças também percorrem outras aldeias que sofreram com as chuvas para saber onde e como ajudar
Durante uma visita feita a cinco comunidades — de um total de 44 — descobriram que pelo menos 33 famílias perderam tudo de forma “muito rápida, muito maluca, muito cruel”. Thyara relata que as pessoas estão dormindo “no chão puro”, sem colchões, cobertores e sofrendo com um frio atípico para o mês de dezembro na região. “Estamos pedindo doação de alimentos, águas, cobertores, colchões e também fraldas”, conta.
A articulação também passa pelo difícil trabalho de convencer algumas famílias em áreas de risco a deixarem suas casas e irem até escolas onde estão montando bases de apoio. “Temos muito apego com o nosso território”, observa.
“Muitas pessoas não querem sair de suas casas. Preferem morrer na casa deles, existe esse apego, diz “Thyara Pataxó, liderança indígena da aldeia Pataxó Novos Guerreiros.
Thyara também alega que não houve ajuda ou mesmo contato, até o momento, do governo da Bahia, de prefeituras próximas ou mesmo da Funai (Fundação Nacional do índio). Sem “um dia de sossego”, lamenta, diz que a responsabilidade pela comunidade acaba recaindo aos próprios indígenas: “Não temos a quem recorrer”. “Estamos enfrentando muita chuva, muita lama, e muitas cobras também, que aparecem com a chuva. Estamos dando a nossa cara, a nossa vida, para tentar suprir uma necessidade dos nossos parentes.
O UOL questionou o governo da Bahia e a Funai sobre a situação das aldeias Pataxó no Sul da Bahia, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Doações Ecoa listou uma rede de locais que estão recolhendo doações para ajudar as vítimas dos alagamentos e desabamentos.
A doação pode ser feita por meio de PIX ou envios ao endereço de apoio. Pix: (73) 998650523 (Kécia Guedes de Oliveira) Endereço de Apoio: Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha, Rodovia BR 367, Km 07, Coroa Vermelha — Santa Cruz Cabrália (BA)
Reportagem de Juliana Arreguy do UOL Notícias