Por pura coincidência encontrei com Sérgio Alves dos Santos. Ele estava em frente à Câmara Municipal. Há tempos não o via. Caminhando com uma dificuldade que eu desconhecia, ele apareceu como quem não fosse o próprio. Meu sorriso surgiu naturalmente, veio com aquele frescor de domingo de manhã. Grande Sérgio, que prazer reencontrá-lo!
Obviamente, não o permitir ir embora sozinho para o Agrovila. Durante o percurso até sua casa, conseguimos colocar um pouco do papo em dia. De mineiro para mineiro. De contador de causo para outro, logo nos inteiramos da vida de cada um. Quando cheguei à sua casa simples numa das ruas afastadas do bairro, me veio um estalo na hora: tenho que escrever, tenho que homenageá-lo…
De dono de boteco a secretário municipal de Cultura, Sérjão fez de tudo por aqui. Tardará muito até que a vida seja capaz de inventar uma coisa que ele ainda não meteu o bedelho. Fez comida para a cadeia, montou padaria, se “intrometeu”, no melhor sentido, na cultura de Porto Seguro, foi administrador de um espaço cultural que elevou o status da Rua do Mangue, para Corredor Cultural Pacatá, ensinou e ajudou muitas crianças e idosos na arte, na música e na inclusão digital, realizou diversos e diversos eventos culturais. Formou-se em Educação na Faculdade Nossa Senhora de Lourdes e nem sua saúde debilitada tira o sonho de continuar lutando pela cultura seja onde estiver. Hoje, quer colocar tudo que fez pela Rua Marechal Deodoro para a comunidade do Agrovila. Esse é Sérjão: um sonhador incansável!
Jojo Notícias: natural de Sete Lagoas, mas vivido em Belo Horizonte, Sérgio desembarca em nosso município, no início dos anos 80. Como Porto Seguro surgiu na sua vida?
Sérgio Alves dos Santos: eu tinha uma irmã que tinha uma casa de veraneio aqui. Lembro-me daquelas brincadeiras de crianças, a adedanha, e sempre que chegava numa fruta que começasse com a letra “e”, escrevíamos Eugênia. E eu me perguntava e as questionava sobre que diabo de fruta era essa. E me disseram que tinha em Porto Seguro. Eu associei Porto Seguro à terra da Eugênia. Eu trabalhava num barzinho em Belo Horizonte no Teatro Marília e um amigo me chamou para cá (terra da Eugênia, risos), para vender pastel. Se desse dinheiro, eu receberia. Isto foi em março de 1982, tínhamos show do Armandinho, do Dodô e Osmar. Passamos por diversas aventuras nesse período. Apaixonei-me por tudo aqui.
JN: quais foram os trabalhos que exerceu em nossa cidade?
SAS: nossa! Eu fiz de tudo. Comecei com um boteco, depois fazíamos comida para os presos na delegacia e, mais tarde, montei uma padaria na Rua Marechal Deodoro, que tinha o slogan “aqui bromato não entra nem a pau” (risos). Fiz linguiça, espaguete, dei aula de teatro na Populis, na Cidade Histórica, fui jogador, bandeirinha e árbitro de futebol até me tornar secretário municipal de Cultura em 1992, durante a gestão de Baiano. Foi um período muito legal. Fizemos o São João na Praça da Lenha, era uma cultura voltada para a comunidade mesmo.
JN: como você explica esse amor pela Rua do Mangue?
SAS: eu sempre rodeei por ali. Com o boteco que era perto e minha padaria que era lá. No final dos anos 90, o dono do imóvel da padaria, Onil, era o mesmo do espaço que muito tempo foi o Macunaíma. Eu tomava conta pra ele, que até quis me vender o imóvel na época. Eu comecei com o apoio deles. Ajudando sempre crianças e avós. Oferecemos aulas de música e de teatro, e promovíamos eventos na rua. Criamos a Associação Cultural Estela Chaves.
JN: foi a partir daí que veio a ideia de fazer da Rua do Mangue, o Corredor Cultural Pacatá?
SAS: eu trabalho com a memória. Estudo sobre festas de rua desde 1600 aqui. Minha dissertação foi sobre as manifestações populares em Porto Seguro, antes do turismo chegar. Meu título era “parou por quê? Por que parou?”. Então sempre quis manter as festas tradicionais e fazer da Rua do Mangue uma grande expressão cultural. Promovemos diversos eventos culturais lá.
JN: como foi a mudança para o Agrovila?
SAS: quando cheguei ao bairro em 2013, coloquei os computadores para inclusão digital, realizamos o cinema na praça. Mantive o Galo da Madrugada que fazíamos no Carnaval na Rua do Mangue, agora com outra nomenclatura, Galo do Agrovila. No entanto, tive problemas de saúde que me impediram nos últimos anos de continuar com o projeto.
JN: quais são seus sonhos agora?
SAS: temos o galpão aqui, carteiras para as crianças desenharem, computadores e instrumentos musicais. Quero colocar tudo isso para funcionar e proporcionar diversas atividades para a comunidade do bairro.
