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Coletivo “Parto Seguro” exige a construção de estrutura especial para receber gestantes durante pandemia

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Maria se desesperou quando sua acompanhante foi barrada na entrada do Hospital Luís Eduardo Magalhães, estava determinada a fugir. Este seria seu primeiro parto e já ouvira histórias nada animadoras sobre o tratamento que amigas receberam durante o parto naquele mesmo hospital. Mas Rita Santana, a doula que a acompanharia, convenceu-a a entrar, sua gestação era de risco e não lhes restava alternativa. Maria foi aos prantos. Do lado de fora da porta, Rita se juntou a outras tantas acompanhantes que aguardavam notícias sobre os partos que não puderam assistir. Tudo indica que esse é o novo protocolo adotado em decorrência da Covid-19, limitar às gestantes o direito ao acompanhante garantido na Lei Federal 11.108/2005.

O hospital em questão é referência regional para o atendimento aos pacientes de COVID-19 e é lá também o único serviço de saúde pública que oferece atendimentos a partos normais no município de Porto Seguro, sendo ainda referência para atendimentos das gestantes de alto risco de toda a região.

“Será que quando você priva uma gestante do direito ao acompanhante, mas coloca-a no mesmo hospital que recebe pacientes com suspeitas e com casos confirmados de Covid-19 da região, você realmente está protegendo essa mulher?”, pergunta Rita. Além de doula, ela faz parte do Coletivo “Parto Seguro”, um grupo de mulheres, mães, enfermeiras, doulas e ativistas que defendem o direito ao parto humanizado no extremo-sul da Bahia.

O Coletivo Parto Seguro está convicto de que o caminho para proteger as gestantes nesse contexto de pandemia não é a retirada do direito a um acompanhante durante o pré-parto e o parto. Reforçam que a retirada desse direito, já tão pouco respeitado, atingirá diretamente as mulheres mais vulneráveis, as pobres, negras, moradoras da periferia, com baixa escolaridade.

Como resposta à pandemia, essas ativistas exigem que seja disponibilizada outra estrutura específica para atender as gestantes e evitar que elas sejam expostas ao coronavírus no hospital.

O que as deixa mais indignada é que essa situação já poderia estar resolvida. Em 2019, após muita mobilização, foi aprovada pelas redes municipais de saúde de Porto Seguro e Eunápolis, a construção de um Centro de Parto Natural (CNP) em ambos os municípios, para atender aos partos de baixo-risco. Mais de um ano depois, não há nem sinal da construção dessas estruturas que, segundo as ativistas, seriam as mais apropriadas para receber as gestantes e evitar a contaminação dessas mulheres durante a pandemia.

Para Jean Cristina, que além de enfermeira e professora do IFBA é ativista do Coletivo Parto Seguro, é necessário que o poder público priorize e dê agilidade a esse projeto. “É urgente que seja viabilizado um espaço público adequado para as gestantes nesse contexto de pandemia. As mulheres pobres, negras e com nível de escolaridade mais baixo, sobretudo, ficam à mercê das piores condições e da violência obstétrica. Agora, além de todas essas violações praticadas corriqueiramente, estão expostas ao risco de contaminação pelo covid 19. É inaceitável”, protesta Jean.

Além disso, Caroline Duarte, enfermeira, pesquisadora do tema violência obstétrica e ativista do Coletivo Parto Seguro, reforça que o direito ao acompanhante é fundamental e, independente do contexto, deve ser respeitado. “Historicamente as mulheres sempre pariram acompanhadas por outras mulheres e mais recentemente alguns pais têm participado desse momento do nascimento dos filhos”, explica. “A condição de parir é uma condição especial e requer cuidados específicos. O acompanhante que a mulher escolhe para esse momento carrega em si um poder terapêutico que contribui muito para os desfechos do nascimento, uma vez que a mulher necessita de muita empatia e confiança durante seu trabalho de parto, no parto e no puerpério”.

Agora essas ativistas se mobilizam para que, por fim, a construção desses Centros de Parto Natural sejam iniciadas. E para que, até que esses centros abram suas portas, os municípios organizem estruturas temporárias para atender às gestantes durante a pandemia. Mas acreditam que isso só será possível com pressão e com a difusão na imprensa.

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