Relatora da CPMI do 8 de Janeiro responsabiliza Bolsonaro e pede indiciamento de ex-presidente, auxiliares e aliados
Os atos de vandalismo de 8 de janeiro foram consequência de uma mobilização planejada com antecedência, executada com ajuda de financiadores, possibilitada pela conivência deliberada de autoridades de segurança pública, e que possui um responsável central: o ex-presidente Jair Bolsonaro. Essas foram algumas das conclusões apresentadas na leitura inicial do relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), apresentado na manhã desta terça-feira (17/10), em reunião da CPMI do 8 de janeiro.
O relatório final da CPMI apresentado pela senadora Eliziane Gama pede o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como de uma extensa lista de auxiliares e aliados do governo passado. A lista inclui nomes como o do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o ex-diretor da Polícia Federal Rodoviária (PRF) Silvinei Vasques, os ex-ministros Anderson Torres (Justiça), Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (GSI), Luis Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), além da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
A sessão desta terça destina-se à leitura do relatório apresentado pela relatora, assim como dos votos em separado de um grupo de parlamentares de oposição e outro assinado apenas pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Após a leitura dos documentos, deve ser pedida vista, e a discussão e votação dos pareceres acontecerá em reunião nesta quarta (18/10), já agendada pelo presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA).
A senadora Eliziane Gama iniciou a leitura do seu relatório afirmando que no dia 8 de janeiro deste ano, o Brasil viveu o maior ataque à sua democracia, perpetrado por cinco mil vândalos inconformados com o resultado das urnas e dispostos a tudo para impor ao país o seu projeto de poder. Segundo a relatora, o objetivo do trabalho dela na CPMI foi o de entender como se deu a organização da manifestação e consequente depredação das sedes dos três poderes, além de buscar como os insurgentes puderam romper sem muita dificuldade os sistemas de segurança que deveriam proteger o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF.
“As investigações aqui realizadas permitiram que chegássemos a um nome em evidência e a várias conclusões. O nome é Jair Messias Bolsonaro. Como se verá, a democracia brasileira foi atacada, massas foram manipuladas com discursos de ódio, milicianos digitais foram empregados para disseminar o medo, desqualificar adversários e promover ataques ao sistema eleitora. Forças de segurança forma cooptadas, tentou-se corromper, obstruir e anular as eleições, um golpe de estado foi ensaiado, e por fim foram estimulados atos e movimentos desesperados de tomada de poder. O 8 de janeiro foi obra do que chamamos de bolsonarismo”, disse a senadora.
Eliziane Gama afirmou que, diferente do que tentaram argumentar os parlamentares bolsonaristas, os atos do dia 8 de janeiro não teriam sido um movimento espontâneo ou desorganizado. “Foi uma mobilização idealizada, planejada e preparada com antecedência. Os executores foram insuflados e arregimentados por instigadores que definiram de forma coordenada datas, percurso e estratégia de enfrentamento e ocupação dos espaços”, afirmou.
“Caravanas foram organizadas de forma estruturada e articulada. Extremistas radicais tiveram suas passagens pagas e estada em Brasília subsidiada. Houve método na invasão. Os edifícios-sede dos três poderes foram tomados quase simultaneamente a intervalos muito curtos de tempo. Quando os insurgentes subiram a rama do planalto, manifestantes ainda não tinham tomado o salão verde. Quando os vândalos entraram no Supremo, a destruição mal havia começado nos outros prédios”, completou a senadora.
Em outro ponto da leitura do seu relatório, a senadora Eliziane Gama afirma que autoridades que poderiam evitar a depredação protegeram intencionalmente os manifestantes, assim como omitiram-se, segundo ela, de forma deliberada e premeditada, “ou atuaram comissivamente para a consumação das invasões e também depredações”.
Para Eliziane Gama, o 8 de janeiro também não foi um movimento ordeiro e pacífico que degenerou em violência. “Com o tom virulento das convocações, a proibição da participação de crianças e idosos, os planos de sabotagem da infraestrutura e as técnicas utilizadas e o material encontrado com os manifestantes provam que a depredação não foi um acidente de percurso, mas o próprio objeto da mobilização. A proposta não era apenas ocupar, mas depredar”, concluiu.
Fonte: Bahia Notícias