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Brasil 200 anos; das margens do Ipiranga à Avenida Farias Lima (SP)

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“É sempre bom lembrar, que um copo vazio, está cheio de ar” (Gilberto Gil)

A carta de Pero Vaz de Caminha, uma espécie de certidão de nascimento do Brasil, exaltava as riquezas naturais do novo território e dizia: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá!”. De maneira sugestiva, o Brasil é o único país do mundo que tem nome de árvore. Mas a primeira atividade econômica, após a chegada dos portugueses, foi a extração do Pau-Brasil para fins de exportação para a Europa. Também foi com a derrubada de uma árvore que se construiu a cruz usada na primeira missa ocorrida no país, no dia 26 de abril de 1500. Não tem sido simples construir uma civilização nos trópicos.

Para Sergio Buarque de Holanda somos “Desterrados na própria Terra”. O modelo de exploração do território brasileiro trazia embutido uma ameaça distópica de uma população degredada em uma terra degradada. Os ciclos da cana de açúcar, do café e da borracha, juntamente com a expansão da pecuária, da mineração e da indústria provocaram grande desmatamento, poluição e deterioração ecológica.

“O Brasil é um adiamento infinito” (Nelson Rodrigues)

O Brasil tem muitas razões para comemorar os 200 anos da Independência, mas também tem diversos motivos para se preocupar com o que deixou de ser realizado e com tudo que ainda falta fazer. Comparando o ano de 1822 com o ano de 2022 os avanços sociais são significativos e inquestionáveis nas mais diversas áreas.

O crescimento demoeconômico foi marcante. Gráficos demonstram que, entre 1822 e 2022, a população brasileira cresceu 46,3 vezes, o PIB cresceu 704 vezes e a renda per capita cresceu 15,2 vezes. Ou seja, a economia cresceu bem mais do que a população e o brasileiro médio passou a embolsar em um mês o que se demorava 1 ano e 3 meses para ganhar na época do Grito do Ipiranga.

Em 4 décadas, o PIB brasileiro encolheu em termos relativos. O país apresentou maior volume do PIB em termos absolutos, mas cresceu menos do que a economia internacional. Por este motivo, se diz que o Brasil era um país emergente, entre 1822 e 1980, quando crescia acima da média global e aumentava o seu peso econômico na comunidade das nações. Mas a partir de 1981 passou a ser um país submergente, pois passou a crescer estruturalmente menos que a média mundial, diminuindo de tamanho relativo. O mundo, liderado pelos países emergentes (especialmente China e Índia) tem acelerado o crescimento econômico, enquanto o Brasil tem desacelerado e perdido fôlego.

Para onde Vamos

Mais do que uma data importante para celebrar os extraordinários avanços sociais, políticos e econômicos do passado, o bicentenário da Independência do Brasil é uma oportunidade única para refletirmos sobre o futuro que queremos para o país. Por coincidência, as comemorações desse importante marco histórico ocorrem em um ano de eleições gerais, quando, tradicionalmente, se intensificam os debates sobre as questões que interferem no crescimento da economia e na qualidade de vida da população.

Em 200 anos, o Brasil agrário, escravocrata e regido pela monarquia passou a ser uma República, com governos eleitos democraticamente e instituições públicas sólidas. Transformou-se em um país urbano e industrializado, com uma economia diversificada e modernas relações de trabalho.

Também são notáveis os progressos na saúde, na educação, na infraestrutura, na tecnologia e em tantas outras áreas que determinam o desenvolvimento das nações. Exemplos disso são o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, a queda da taxa de mortalidade infantil, a universalização do ensino, a redução do analfabetismo, e a ampliação das redes de água e esgoto e de telecomunicações.

Entretanto, o Brasil precisa avançar ainda mais para voltar a crescer de forma sustentada, elevar a renda média da população e colocar-se entre os países mais desenvolvidos. Para isso, devemos implementar, com urgência, ações consistentes que incentivem os investimentos, e aumentem a competividade e a produtividade das empresas.

A medida mais importante nessa direção é a aprovação de uma reforma ampla da tributação sobre o consumo que elimine as distorções, simplifique o sistema, e desonere as exportações e os investimentos. Outra iniciativa indispensável é a implementação de medidas adequadas ao fortalecimento da indústria, setor que desempenha um papel fundamental no crescimento econômico e na criação de emprego de qualidade.

Necessitamos de uma política ambiciosa de apoio à inovação, à ciência e à pesquisa para que o país e as empresas se adequem às mudanças provocadas pela Indústria 4.0 e pela economia de baixo carbono. Essas duas revoluções que estão em curso no mundo intensificaram a corrida tecnológica e requerem o desenvolvimento de produtos e negócios inovadores, além de diferentes formas de organização da produção.

Devemos, também, melhorar a qualidade da educação formal e ampliar a oferta do ensino profissional para que os jovens se preparem adequadamente para atender às novas exigências do mercado de trabalho e possam enfrentar os crescentes desafios da era do conhecimento.

É indispensável, ainda, aumentar a segurança jurídica e modernizar os marcos regulatórios da infraestrutura. Em paralelo, precisamos dar atenção especial ao meio ambiente e às ações de combate às mudanças do clima. Isso é fundamental para que o Brasil, dono de um patrimônio natural invejável, seja um dos líderes da transição para a economia de baixo carbono.

 

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