O cenário musical brasileiro perdeu uma de suas vozes mais potentes e dramáticas. Faleceu, aos 85 anos, o cantor e compositor Lindomar Castilho. Ícone de uma era em que o sentimento era a nota máxima da canção, Castilho partiu deixando um legado de melodias viscerais que embalaram gerações, mas também uma trajetória marcada por uma tragédia pessoal que interrompeu o auge de sua carreira.
O Pioneirismo de um “Rei” no Império do Brega
Lindomar Castilho foi muito mais que um intérprete de boleros; ele foi um dos pilares fundamentais do que viria a ser consolidado como a música brega no Brasil.
Em uma época (especialmente nas décadas de 60 e 70) em que a música popular brasileira se dividia entre a sofisticação da Bossa Nova e o engajamento dos festivais de MPB, Lindomar trilhou um caminho popular massivo. Ele teve a coragem de abraçar o gênero em um período de forte resistência cultural e preconceito das elites intelectuais.
- Voz Imponente: Com um barítono marcante, ele deu dignidade orquestral ao bolero.
- Sucesso Continental: Canções como “Você é Doida Demais” (que ganhou nova vida anos depois na abertura de Os Normais) e “Santa Mãe” atravessaram fronteiras, tornando-o um ídolo em toda a América Latina.
- Identidade Popular: Ele foi pioneiro ao cantar as dores de cotovelo, os amores proibidos e a realidade do povo, ajudando a moldar a estética romântica exagerada que hoje é celebrada como patrimônio cultural.
A Tragédia no Auge da Fama

Infelizmente, a vida de Lindomar Castilho também foi definida por um episódio sombrio que chocou o país e mudou o curso de sua história. Em 1981, no auge do sucesso, o cantor protagonizou um crime passional motivado por ciúmes excessivos.
Em um ataque de fúria ao encontrar sua ex-esposa, a também cantora Eliane de Grammont, em uma lanchonete em São Paulo, Lindomar disparou contra ela. Eliane não sobreviveu aos ferimentos. No mesmo incidente, o cantor também baleou o primo da vítima, Carlos Randall.
Pelo crime, Castilho foi condenado a 12 anos de prisão. Cumpriu parte da pena em regime fechado e, após ganhar a liberdade, tentou retomar a carreira, mas o peso do estigma e o trauma social deixado pelo feminicídio nunca permitiram que ele recuperasse o brilho de outrora.
O Legado Agridoce
A morte de Lindomar Castilho encerra o capítulo de uma figura complexa da cultura brasileira. Ele deixa para a história a imagem de um artista que soube como poucos traduzir o drama humano em canção, mas que acabou se tornando vítima de seus próprios demônios em uma tragédia que ainda hoje serve como reflexão sobre a violência contra a mulher.
Para os fãs, fica a memória da voz que, por décadas, foi a trilha sonora oficial da boemia e dos corações apaixonados.