O Portal de notícias de Porto Seguro

O impacto do bullying nas famílias e amigos de pessoas autistas

0

O bullying escolar é uma violência cruel, que atinge em cheio a autoestima e a saúde mental de crianças e adolescentes, sobretudo aqueles com transtorno do espectro autista (TEA). A repetição de humilhações, agressões físicas, isolamento e zombarias cria um ambiente inseguro, onde o medo muitas vezes se transforma em silêncio — e, para muitos, em angústia profunda, desesperança, ansiedade e depressão.

Para pais e mães, ver seus filhos sofrerem sem a devida intervenção da escola é uma fonte constante de estresse e culpa: sentem-se responsáveis por não conseguir protegê-los, mesmo contra um sistema que promete segurança e inclusão. Quanto mais tempo as agressões se prolongam, mais intensifica-se o sofrimento emocional de toda a rede de apoio — amigos, irmãos, professores empáticos e demais familiares que se veem impotentes.

Caso trágico no Jardim Maravilha: um desfecho irreparável

Recentemente, a Escola Municipal Carlos Magno, no bairro Jardim Maravilha, Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi palco de uma tragédia que chocou a comunidade: um adolescente com diagnóstico de autismo se suicidou, pulando de uma caixa d’água dentro da escola, após suportar dias de intensa humilhação e agressões por parte de colegas.

Embora detalhes oficiais ainda sejam coletados, colegas e testemunhas relatam que o jovem vinha sendo alvo de agressões, zoadas constantes e exclusão durante o horário escolar — práticas de bullying que já vinham ocorrendo há semanas. Amigos relatam que ele vinha demonstrando sinais de desesperança, e chegou a comentar, dias antes do suicídio, sobre não aguentar mais as ofensas e se sentir culpado por ser “diferente”.

A família permanece em choque. Segundo relato da mãe, mesmo após denúncia e pedido de intervenção, a escola não teria reforçado medidas de acolhimento nem oferecido apoio psicossocial adequado. Hoje, pais, professores e amigos se reúnem por velas e cartazes, pedindo justiça e mudanças, clamando por “Escolas que acolhem, e não matam”.

Sofrimento que vai além da vítima

O impacto de uma tragédia como esta reverbera além da dor automática da perda:

Irmãos e amigos próximos ficam abalados, com sentimento de culpa por não terem percebido os sinais ou pedido ajuda antes.

Colegas e professores sofrem por entender que sua omissão, mesmo passiva, pode ter tido consequências devastadoras.

Famílias de outras crianças com TEA e necessidades especiais ficam receosas de expor seus filhos ao mesmo risco, receio que resulta em evasão escolar ou isolamento.

A comunidade escolar — alunos, profissionais e familiares — busca explicações, muitas vezes ficando polarizada entre os que exigem punição e mudança, e aqueles que buscam tratar o caso como uma tragédia isolada.

O que precisa mudar — e com urgência

  1. Políticas escolares efetivas: adoção de protocolos claros para identificar e intervir no bullying, com envolvimento de psicólogos e mediadores.
  2. Formação contínua dos professores: capacitação para reconhecer sinais de agressão e acolher alunos com TEA de forma empática e inclusiva.
  3. Apoio psicológico regular: disponibilidade de profissionais de saúde mental para orientar e cuidar das vítimas, testemunhas e, quando necessário, dos agressores.
  4. Parceria com família e comunidade: campanhas de conscientização, rodas de conversa e canais seguros para denúncia devem ser constante prática escolar.
  5. Responsabilização institucional: direções e secretarias precisam garantir ambiente escolar seguro, sob pena de responsabilização por negligência.

🕯️ Uma tragédia e um chamado à ação

O suicídio deste jovem no Jardim Maravilha é mais do que o fim de uma vida precoce — é o símbolo do colapso de um sistema que falhou em proteger os mais vulneráveis. Organizações, educadores e famílias locais já se mobilizam por justiça e mudanças profundas. Mas é necessário que essa mobilização ganhe adesão em todas as escolas do Brasil.

Se hoje você é mãe, pai, professor, colega ou amigo de alguém que sofre calado, saiba: denunciar, cobrar, apoiar, ouvir e estar presente podem salvar vidas. Hoje é urgente transformarmos o silêncio e negligência em acolhimento e ação concreta.

O avanço do bullying — físico, verbal e psicológico — nas escolas do país, e suas consequências em jovens com TEA, exigem resposta imediata e eficaz. Proteger nossas crianças e adolescentes não é apenas um dever legal, mas um compromisso ético de toda sociedade. A vida de um jovem depende disso.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.