Transporte coletivo entra em colapso na Orla Norte: atrasos, linhas desviadas e usuários abandonados à própria sorte
O transporte coletivo que atende a Orla Norte de Porto Seguro vive seu pior momento em anos. Denúncias enviadas por moradores, trabalhadores e estudantes revelam um cenário de colapso operacional, com atrasos sistemáticos, horários não cumpridos, desvios de linha, falta de ônibus e motoristas que simplesmente não param quando veem apenas um passageiro no ponto — especialmente à noite e nos finais de semana.
As linhas T200 e T210, responsáveis pela ligação entre alguns dos bairros mais populosos e turísticos da cidade, deixaram de operar conforme a tabela oficial, que prevê circulação desde as 5h até pouco após a meia-noite. Na prática, dizem os usuários, a grade virou “peça decorativa”.
Domingo de caos: seis horários seguidos não operaram
No último domingo (23/11), o sistema chegou ao limite. Entre 9h e 10h40, seis viagens consecutivas não foram realizadas — nem no terminal, nem nos pontos intermediários.

Horários previstos que não saíram:
9h00
9h20
9h40
10h00
10h20
10h40
Trabalhadores que dependiam do transporte ficaram presos por até 1h20 no terminal, sem informação e sem alternativa de deslocamento.
Uma passageira relatou:
“Eu cheguei 8h55. Fiquei esperando até quase 10h40. Nenhum ônibus desceu. Tinha gente chorando, gente desesperada sem poder avisar no trabalho porque o celular ficou sem bateria.”
Outro morador reforçou:
“Teve gente que perdeu o expediente. Outros ficaram com medo de voltar andando porque estava chovendo e escuro. Isso é desumano.”
Motoristas não param quando há apenas um passageiro
Outro problema recorrente é o comportamento de motoristas que ignoram usuários solitários no ponto — prática que moradores dizem ser comum nos trechos entre Gaúcho, Taperapuan e Mutary.
Segundo as denúncias:
motoristas aceleram ao ver apenas uma pessoa;
desligam a luz interna para evitar parar;
passam com o ônibus vazio, mesmo assim não atendem o usuário;
deixam passageiros expostos ao risco, principalmente à noite.

Um trabalhador noturno contou:
“O ônibus passou vazio. Eu levantei o braço, gritei, quase me joguei na frente. Ele acelerou e foi embora. Fiquei sozinho na chuva, sem alternativa.”
Outro morador complementou:
“Se tiver só uma pessoa no ponto, eles não param. Estão com pressa de encerrar o turno.”
Linhas desviadas por ‘demanda’: prática ilegal deixa moradores sem transporte
Relatos de usuários e de funcionários da própria empresa indicam que a operação está sendo feita por demanda, e não pelos horários programados. Na prática, isso significa:
Ônibus que deveriam ir para a Orla são desviados para Vila Jardim ou Mirante.
A linha é alterada conforme a quantidade de passageiros de outro bairro.
Usuários da Orla ficam abandonados, mesmo com horários impressos no papel.
No domingo, um ônibus que deveria atender a Orla foi redirecionado porque “tinha mais gente para outro bairro” — descumprindo o cronograma oficial.
A prática é ilegal, pois a tabela pública faz parte da obrigação contratual da concessionária.
Horários existem — mas não são respeitados
A reportagem verificou as tabelas fixadas no terminal. Para domingos, a grade prevê:
T200: 05h20, 06h00, 06h40, 07h20, 08h00… até 23h20
T210: 05h00, 05h40, 06h20, 07h00… até 23h35
Na prática, moradores afirmam que:
À noite, chegam a ficar 1h30 sem qualquer ônibus.
A tabela é descumprida quase todos os dias.
Aos domingos, o serviço praticamente não existe.
Consequências diretas: riscos, perdas e violações do direito do consumidor
Além do descumprimento de horários, moradores relatam que as quebras constantes dos ônibus, muitos deles em estado de sucateamento avançado, agravam ainda mais o colapso do transporte na Orla Norte. Veículos param no meio do trajeto, apresentam falhas mecânicas frequentes e chegam a interromper viagens antes do destino final, deixando passageiros no meio do percurso. Diante da insegurança e da imprevisibilidade, trabalhadores e estudantes são obrigados a recorrer a aplicativos de transporte e alternativas privadas, arcando com custos extras que pesam no orçamento mensal — um gasto que muitos simplesmente não podem suportar, mas que se tornou a única forma de garantir o deslocamento diário.
O descumprimento do serviço não é apenas incômodo. Ele constitui violação grave, segundo o Código de Defesa do Consumidor e normas de concessão pública.
As irregularidades incluem:
- Interrupção de serviço essencial
Descumpre o Art. 22 do CDC, que garante continuidade, eficiência e segurança no transporte.
- Publicidade enganosa
A empresa divulga horários que não cumpre (arts. 30 e 31 do CDC).
- Risco à integridade física
Abandonar passageiros sozinhos à noite, sob chuva, é risco real — sobretudo em áreas mais isoladas da Orla.
- Dano moral coletivo
Centenas de trabalhadores têm faltado ao emprego ou perdido parte do expediente.
- Descumprimento contratual da concessão
A empresa é obrigada a operar conforme tabela e trajeto oficial — algo que não vem ocorrendo.
Moradores pedem providências urgentes
Os pedidos mais citados pelos usuários incluem:
– Fiscalização imediata da Prefeitura e da Secretaria de Trânsito.
– Auditoria sobre a operação real x tabela oficial.
-Reforço da frota à noite e nos finais de semana.
– Cumprimento integral da grade divulgada.
– Revisão da concessão caso o descaso persista.
Um alerta recorrente acompanha as denúncias:
“Se continuar assim, alguém ainda vai ser assaltado, agredido ou perder o emprego por causa desse descaso.”
Um serviço em colapso
A Orla Norte — uma das áreas mais estratégicas para o turismo e o emprego em Porto Seguro — está entregue a um sistema de transporte coletivo instável, inseguro e imprevisível. Trabalhadores ficam retidos, estudantes perdem aula e moradores caminham quilômetros sob chuva ou escuridão por falta de ônibus.
A reportagem seguirá acompanhando o caso e solicitará posicionamento oficial da empresa e das autoridades responsáveis.
Por Informações: Vinícius Brandão