Morre Nana Caymmi, uma das maiores vozes da música popular brasileira
Morreu hoje a cantora Nana Caymmi, aos 84 anos. Artista estava internada na Clínica São José, em Botafogo, zona sul do Rio, há nove meses.
O que aconteceu
Causa da morte ainda não foi confirmada pela família. Durante o período em que esteve internada, Nana sofreu com uma “overdose de opioides”. Ela também passou por cateterismo e traqueostomia após quadro de arritmia cardíaca, segundo o jornal O Globo. Danilo Caymmi, irmão da cantora, confirmou a morte nas redes sociais.
Nana estava internada desde 26 de agosto, quando retornou à unidade de saúde horas após receber alta. À época, o hospital informou que ela precisaria fazer ajustes no marcapasso. Dias antes, a artista foi hospitalizada por dores no tórax. Na ocasião, ela passou por um cateterismo cardíaco, que não apresentou obstrução.
No dia 26 de julho, a cantora já havia dado entrada no mesmo hospital com um quadro de arritmia cardíaca. Dias depois da internação, ela passou por um implante de marcapasso.
Em 2015, a artista ficou nove dias internada para tratar uma úlcera no estômago. À época, Nana foi submetida a uma cirurgia gástrica por videolaparoscopia. O procedimento foi bem-sucedido e logo ela recebeu alta.
A família da cantora ainda não divulgou informações sobre velório e enterro.
Nana Caymmi nasceu em abril de 1941. Filha do compositor Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, ela seguiu os passos da família e construiu uma das carreiras mais bem-sucedidas da música popular brasileira.
Primeiro trabalho foi em 1960, quando gravou “Acalanto”, para um LP do pai. A música foi composta por Dori para ser uma canção de ninar à filha. No mesmo ano, ela assinou com a TV Tupi e passou a se apresentar no programa “Sucessos Musicais”. A artista também se apresentou ao lado do irmão Dori no programa “A Canção de Nana”.
Da estreia ao disco ‘Nana, Tom, Vinícius’
Cantora gravou o primeiro disco, intitulado “Nana”, em 1963. No ano seguinte, ela participou do álbum “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”. O projeto se transformou em um clássico da MPB.
Venceu a fase nacional do 1º Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, com a música “Saveiros” (Dori Caymmi e Nelson Motta). Em entrevista ao documentário “Noites de Festival”, a artista falou sobre as vaias que recebeu na ocasião.
“Foi até um aprendizado, porque eu fui vaiada em São Paulo [também]. Eu não tinha dinheiro, e isso me dava uma fortuna nessa época. Eu sabia que não era a Nana que estavam vaiando. Ninguém me conhecia. Quem me conhecia era a Maysa e os músicos”.
Nana Caymmi
Ela gravou mais de 25 álbuns ao longo da carreira, a exemplo de “Renascer” (1976), “Mudança dos Ventos” (1980), “A Noite do Meu Bem” (1994), “Resposta ao Tempo” (1998), “Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo” (2004), “Sem Poupar Coração” (2009) e “Nana, Tom, Vinicius” (2020).
Nana foi indicada ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira com o disco “Nana Caymmi Canta Tito Madi”, em 2019. Dois anos depois, a artista recebeu uma nova indicação para a mesma premiação, mas na categoria Álbum do Ano com o projeto “Nana, Tom, Vinícius”.
Venezuela, casamentos, drama pessoal
Artista morou em Caracas, na Venezuela, por quatro anos. Ela se mudou para o país vizinho após se casar com o médico venezuelano Gilberto José. Por lá, a cantora teve duas filhas: Stella e Denise.
Nana deixou o marido e voltou para o Brasil. À época, ela estava grávida do terceiro filho: João Gilberto Caymmi Aponte. A cantora conseguiu na Justiça que o ex-companheiro pagasse pensão aos filhos.
Estrela foi viver com Gilberto Gil, em 1967, após meses de namoro. O relacionamento, no entanto, chegou ao fim em 1969, quando ela se viu impedida de acompanhar o músico no período em que ele esteve em exílio na Inglaterra —devido ao regime militar. Ela também namorou João Donato, com quem morou entre 1972 e 1974. O último casamento foi com o cantor e compositor Claudio Nucci, que chegou ao fim em 1984.
João, filho da artista, sofreu um grave acidente no fim da década de 1980, no Rio de Janeiro. À época, Nana deixou a carreira de lado e passou um ano cuidando exclusivamente do rapaz. Ele tinha 23 anos quando caiu da motocicleta e ficou com sequelas físicas e mentais irreversíveis.
‘A vida que me resta, de uma senhora, quero viver em paz’
Artista deu uma entrevista polêmica ao jornal Folha de S.Paulo, em 2019, quando lançou o álbum “Nana Caymmi Canta Tito Madi”. À época, ela disse que estava fazendo uma despedida “sem ir embora”, defendeu Jair Bolsonaro e atacou Chico, Gil e Caetano.
Saída à francesa. A vida que me resta, de uma senhora, quero viver em paz. Acordei pro mundo: não tenho muito tempo. Quero ouvir o que eu não podia ouvir. Criei três filhos sozinha. O pai ficou na Venezuela, fez outra família.
Cantora votou em Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018. “É injusto não dar a esse homem um crédito de confiança. Um homem que estava fodido, esfaqueado, correndo pra fazer um ministério, sem noção da mutreta toda… Só de tirar PMDB e PT já é uma garantia de que a vida vai melhorar.”
Ela citou colegas da música. “Agora vêm dizer que os militares vão tomar conta? Isso é conversa de comunista. Gil, Caetano, Chico Buarque. Tudo chupador de pa * de Lula. Então, vão pro Paraná fazer companhia a ele. Eu não me importo.”
E deixou claro que não queria as netas em show de pagode. “Liguei para Denise, minha filha, e perguntei das meninas. ‘Ah, elas não tão aqui, foram assistir ao show do Belo’. Eu falei: ‘O quê?’. Não tenho nada contra a pessoa. Mas duas bisnetas de Dorival Caymmi! Eu já fazia música com quatro anos. Meti bedelho quando vivi com João Donato, com Gil, com Claudio Nucci.”
Fonte: UOL Notícias