As ações e intervenções propostas em decretos editados pela prefeita de Porto Seguro, nos últimos dias, ignoram e deixam à margem a população mais vulnerável e de baixa-renda do município.
As medidas que versam sobre proibições e restrições diversas como fechamento de bares e restaurantes, comércio, praias e que respaldaram a decretação de “situação de emergência em saúde e ação social”, não fazem nenhuma referência às populações vulneráveis, tais como: moradores de rua, lar de idosos, creches, assistidos de CRAS e CREAS, moradores de periferias etc.
Qual o tratamento destinado à essas pessoas? Qual o plano? Como estão pensando em lidar com isso?
São muitas as perguntas e nenhuma resposta.
Não vimos, até o momento, nenhum encaminhamento neste sentido; ao contrário; os relatos são aterrorizadores.
No vilarejo de Caraíva, contrariando a prefeita, a comunidade precisou agir por conta própria para se precaverem da pandemia, proibindo a travessia de turistas e visitantes para a localidade. Enquanto a prefeitura de Salvador anuncia a contratação de profissionais específicos (médicos e enfermeiras), readequação dos asilos e lar de idosos, para atender a população e as arquidioceses de grandes centros se mobilizam para distribuírem álcool-gel e sabão para a população de baixa-renda, em Porto Seguro, não vimos nem ouvimos nada neste sentido. Aparentemente, as medidas contemplam o centro da cidade e visam o turista.
Matérias postadas, aqui, no JoJô Notícias, revelam o desabafo do empresário e CEO do grupo La Torre, Luigi Rotunno, em relação ao abandono dos empresários e comerciantes diante da crise, e relatam a ausência de fiscalização para que se cumpra o decreto publicado (não existe fiscalização nos bairros e distritos do município). Na verdade, todos estão abandonados. A prefeita se limita a divulgar os números de incidência da doença e “copiar e colar” as medidas editadas em outros centros. Inexiste uma pauta própria. A condução parece improvisada e ao humor dos fatos.
O momento requer a formação de um comitê de crise com a participação de especialistas (infectologistas, biólogos etc.) e representantes da sociedade civil (OAB, CDL, religiosos, ONG’s etc.) para planejar ações e definir prioridades.
Quando se trata de eventos festivos a administração se gaba de realizar os melhores e maiores eventos do país, – grandes atrações, sonorização de qualidade, campanhas publicitárias, estrutura impecável-; agora, diante de uma situação grave de saúde pública, quando não se devem poupar esforços para atender a população, constatamos uma administração tímida, inepta, repetitiva e econômica. Gastasse a prefeitura a metade do que se gasta com réveillon, carnaval e São João Elétrico, a população estaria assistida e tranqüilizada diante do drama vivido.
Não se contrata como na “operação verão”, pessoal para suprir as deficiências do setor. Não existem kit’s de testes para detectar a doença nos hospitais públicos. O preço cobrado por clínicas particulares é inacessível à população de baixa-renda. As pessoas que estão chegando aos hospitais com sintomas da doença, estão sendo medicadas com analgésicos e orientadas a retornarem para suas casas, permanecerem em regime de quarentena, e só retornarem quando estiverem morrendo. São poucos os testes realizados, mecanismo fundamental para erradicar a doença. Foi com testes que países como Singapura, Coréia do Norte e a própria China enfrentaram e combateram a pandemia com sucesso.
Já que o São João Elétrico vai ser cancelado, direciona o que seria gasto com o evento em compra de kit”s de teste, álcool gel e sabão para distribuir e prevenir a população; ou a festa, celebrada e justificada como fomento da economia local, significa apenas uma fonte de enriquecimento ilícito, superfaturada, com empresas de fachada, cujo principal objetivo é desviar recursos do erário.
Tá na hora deste governo mostrar sua cara, provar de que lado está. Simplesmente dizer que é pra viver e ser feliz, não cola neste momento.