Paraguai entrega Silvinei Vasques ao Brasil após tentativa de fuga marcada por improvisos e ilegalidades
A Polícia Paraguaia entregou às autoridades brasileiras, nesta sexta-feira (26/12), o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, considerado foragido da Justiça. Ele havia sido preso no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, em Assunção, ao tentar deixar o país com destino ao exterior, após romper a tornozeleira eletrônica e utilizar documentação irregular.
De acordo com informações da Polícia Federal, o plano de fuga de Silvinei revelou uma sucessão de trapalhadas que mais lembram uma “operação tabajara” do que uma ação minimamente estruturada. Entre os artifícios utilizados estavam documentos falsos, inclusive um atestado médico fraudulento que o classificava como doente terminal, incapaz de ouvir ou falar — versão prontamente desmontada pelos investigadores. O roteiro beirou o absurdo quando, mesmo monitorado, o ex-dirigente rompeu a tornozeleira e seguiu justamente para um aeroporto internacional, ambiente de controle rigoroso, onde acabou detido.

As imagens da prisão e da entrega ao Brasil chamaram atenção pelo forte simbolismo: um ex-diretor máximo da PRF, instituição responsável pela segurança da malha rodoviária brasileira, desembarcando de um camburão, algemado e encapuzado. A cena tem caráter pedagógico rigoroso. Ela expõe, de forma inequívoca, que o poder não confere imunidade e que a lei alcança inclusive aqueles que, em determinado momento, estiveram no topo da estrutura estatal. O contraste entre o cargo ocupado e a situação atual evidencia a corrosão ética que acompanha o uso indevido da função pública.
O episódio reforça um padrão que vem se repetindo desde a investigação dos atos que atentaram contra o Estado Democrático de Direito: um a um, os protagonistas da tentativa de golpe buscam fugir da aplicação da lei, frequentemente sob a alegação de perseguição política. As apurações, no entanto, apontam para condutas concretas, com emprego de estruturas e recursos do Estado para tentar interferir no resultado eleitoral.
Nesse contexto, Silvinei Vasques é acusado de ordenar blitzes da PRF em regiões onde o então presidente Jair Bolsonaro tinha baixo desempenho eleitoral, no segundo turno das eleições de 2022, dificultando o deslocamento de eleitores. Caso semelhante envolve Alexandre Ramagem, acusado de instrumentalizar a Abin para produzir informações paralelas e desacreditar instituições. Já a deputada Carla Zambelli é investigada por invadir sistemas do CNJ e do TSE, com o objetivo declarado de “provar” vulnerabilidades e lançar dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral.

A entrega de Silvinei ao Brasil não é apenas mais um capítulo policial. Ela simboliza o fracasso de uma estratégia de impunidade e reafirma que a democracia se sustenta quando as instituições funcionam e a lei é aplicada de forma impessoal. A tentativa de fuga, marcada por improvisos e ilegalidades, termina como começou: desmoralizada. E a mensagem que fica é clara — o uso do Estado contra a própria democracia cobra seu preço.