Miss Indígena e influencer, jovem de RR faz sucesso com conteúdo sobre cultura e costumes: ‘quero mostrar a realidade do meu povo’
Professora, primeira miss indígena de Roraima, estudante e agora influencer digital, isso tudo com apenas 19 anos. Essas são as atribuições e conquistas que a jovem do povo Wapichana, Mari Williams, carrega no currículo. Com quase 30 mil seguidores nas redes sociais e mais de 2,4 milhões de visualizações em seus vídeos, ela aborda — com uma mistura de humor e informação — a rotina, os costumes, a cultura e a luta das comunidades indígenas roraimenses.
Como toda boa digital influencer, Mari também faz alguns tutoriais para seus seguidores, como vídeos em que ensina a comer buriti e um passo a passo de como preparar o beiju. Mas, além disso, ela também usa seu alcance para denunciar o descaso na infraestrutura dos serviços básicos na comunidade.
Mas, o bom humor é a principal “arma” de Mari na internet, principalmente para rebater algumas fake news propagadas sobre a população indígena. No vídeo mais visto até agora, com quase meio milhão de visualizações — a miss ensina que as mulheres Wapichana podem ter quantos maridos quiser.
Mari nasceu na comunidade indígena do Raimundão, no município de Alto Alegre, região Norte de Roraima, mas vive na comunidade Raposa Serra do Sol, com os indígenas Ingarikó, em Uiramutã, onde dá aula para crianças em uma escola na região e, por isso, aproveita sua exposição para mostrar a realidade do povo.
“Nunca fui muito de usar o Instagram, comecei a usar em meados de 2020. Eu postava coisas da comunidade do Raimundão, mas nunca com muito reconhecimento. Em julho do ano passado, eu comecei a dar aula em uma escola indígena na comunidade Serra do Sol. Quando eu fui morar lá, por ser um cultura totalmente diferente da minha, comecei a postar algumas coisas de lá como comidas, cotidiano, a vivências deles…”, conta Mari Williams.
Visibilidade e representatividade
A vida de digital influencer de Mari Williams começou após vencer o concurso de Miss Indígena. Antes de ganhar a faixa, ela afirma que não tinha tanta visibilidade, mas foi conquistando seguidores e resolveu usar sua voz para algo maior.
“Quando fui eleita a primeira Miss Indígena do estado, tudo começou a ter mais repercussão. As pessoas passaram a procurar mais sobre meu trabalho e os seguidores começaram a crescer. Foi quando eu comecei usar mais essa ferramenta, sempre que eu tinha internet na Raposa Serra do Sol”.
“Tudo tem um lado bom. O povo Ingarikó é um povo isolado, mora em área de difícil acesso e passa por inúmeras necessidades. Foi quando eu passei a olhar por um outro ângulo a minha missão nas redes sociais. Pois, de que adiantava ter tanta visibilidade se não servir para alguma coisa? De que adiantava ter tantas pessoas me seguindo se não tem um propósito para elas estarem ali?”, conta.
Mari conta que a região da Raposa Serra do Sol, onde vive o povo Ingarikó, é linda, com belezas naturais, banhada pelo rio Cotingo e possui uma vista ampla do Monte Roraima, porém, afirma que mostrar apenas as maravilhas do local, não teria “muito sentido” diante das “inúmeras dificuldades do povo”.
“É muito fácil eu só postar nas redes a paisagem maravilhosa que tem lá, o lugar maravilhoso e encantador sem mostrar de fato o que acontece, pois eu quero muito que as pessoas conheçam a nossa realidade, a dificuldade que o professor enfrenta para chegar e dar aula lá”, frisa.
Nas primeiras postagens com maior repercussão, Mari contou como o posto de saúde da comunidade foi construído e expôs a situação de um dos seus alunos, que assistia aula em uma cadeira com um buraco no meio. Por conta disso, a escola ganhou uma doação com cerca de 100 carteiras, o que trouxe para ela um sentimento de “missão cumprida”.
“Eu mostrei como o posto de saúde foi criado, com dinheiro da indenização da morte de uma moradora de lá, a precariedade da infraestrutura de serviços que são direitos básicos. Tudo isso eu comecei a postar. Começaram a repercutir e nisso tudo aconteceu uma coisa boa, a gente recebeu uma doação de 100 carteiras, por causa de um story que eu tinha postado”.
Para a miss, de nada adiantaria ter tanta repercussão, sem usar essa ferramenta para fazer a diferença na vida do seu povo.
“A intenção mesmo é mostrar a realidade, pois muita gente fala para mim: ‘Mari, você nos representa’, mas o que é representatividade? Do que adianta eu só levar os conteúdos para as pessoas sem elas saberem o real sentido? Toda essa visibilidade eu estou buscando levar por um lado de mostrar e apresentar a realidade do meu povo, a nossa cultura, divulgar os artesanatos, as nossas músicas, as nossas comidas, a importância de uma damurida”.
Em outro vídeo, com muita repercussão, ao ser questionada sobre quantas mulheres um homem Wapichana pode ter, Mari responde — com humor e sem perder a pose — que em sua comunidade o homem só pode ter uma mulher, mas a mulher pode ter quantos maridos quiser.
O vídeo foi visto por quase meio milhão de pessoas que fizeram comentários do tipo “Gostaria de fazer parte dessa cultura”, “Por que na minha cultura não tem isso” e “Se um marido já é complicado, quem dirá cinco”. Mas também, causou o que a miss chamou de “revolta masculina”.
Mas Mari destaca: nada de seus conteúdos é ensaiado ou possui algum roteiro. Tudo é feito na espontaneidade, no maior estilo denominado por ela de “achei legal e fiz”.
“Meus vídeos e os conteúdos que eu produzo no Instagram, sou eu quem faz. Eu me baseio em alguns reels, alguns stories e tento fazer um conteúdo parecido, só que voltado para a minha realidade. Eu não tenho roteiro, não tem produção, é tudo muito espontâneo”.
Por G1 Notícias