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Crise no clã Bolsonaro: a queda do patriarca e o fim de uma saga política familiar

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A iminente prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e o fim melancólico do mandato de deputado federal do seu filho, Eduardo Bolsonaro, em missão inglória e conspiratória nos EUA, é mais do que o desfecho de uma investigação criminal: é o símbolo do colapso de um projeto político que tentou sequestrar a democracia brasileira em nome de uma cruzada moralista, autoritária e personalista. O clã Bolsonaro, que construiu um império de poder elegendo filhos, parentes e aliados nos três níveis da política nacional, hoje se vê encurralado pela mesma Constituição que jurou defender — mas tantas vezes tentou violar.

Diante desse cenário, o sentimento que predomina entre os aliados mais fiéis é de desespero. Não por amor à democracia, mas por medo de que a justiça, finalmente, alcance quem acreditava estar acima dela. E nesse momento de aflição, o bolsonarismo faz o que sempre soube fazer: apela ao enredo da vitimização, da conspiração e da salvação messiânica.

A espera por uma “cavalaria” que não virá

Entre seus seguidores, resiste a esperança de que a “cavalaria americana” chegue a tempo de salvar Bolsonaro da cadeia — uma referência clara ao antigo aliado Donald Trump e à extrema-direita internacional, vistas como as últimas trincheiras de apoio ideológico. A ironia é amarga: nos filmes americanos, a cavalaria aparecia no último minuto para salvar os mocinhos. No caso brasileiro, se ela chegou, foi para reforçar o cerco judicial, e não para livrar o patriarca de sua derrocada.

As autoridades norte-americanas têm colaborado com investigações que atingem diretamente o ex-presidente e seus aliados. A suposta aliança internacional virou fumaça, e a realidade bate à porta: não há cavalo branco vindo do Norte. O que há é um Estado brasileiro que — a duras penas — prova que tem instituições dispostas a fazer cumprir a lei.

A falácia da “venezuelização”

Uma das maiores contradições do bolsonarismo está em sua retórica: enquanto acusa o Brasil de estar se tornando uma Venezuela, governada por um regime autoritário à la Hugo Chávez, é justamente a autonomia dos poderes que desmonta essa farsa. Na Venezuela chavista, hoje sob a batuta de Maduro, o Executivo domina o Judiciário e o Legislativo. No Brasil, ao contrário, é justamente a independência desses Poderes que impede aventuras autoritárias como as que o clã Bolsonaro tentou em 2023.

Não é a Justiça brasileira que persegue Jair Bolsonaro; são os fatos, as provas e a Constituição que o confrontam. Quem tentou calar o Congresso, desacreditar o sistema eleitoral e insuflar militares contra o Estado Democrático de Direito não foi o STF — foi o ex-presidente e seu entorno. A realidade é que o Brasil reafirma, neste momento histórico, que está muito distante de qualquer “venezuelização”. E essa distância se mede em decisões judiciais que não se curvam a pressões políticas.

O fim de uma ilusão

Bolsonaro sempre vendeu a imagem de um “mítico salvador da pátria”, imune às regras da política tradicional, com o povo e Deus ao seu lado. Mas a política, como a história, cobra seus débitos. E o bolsonarismo, agora órfão de sua liderança moral, se vê sem rumo, sem força e sem a blindagem institucional que antes julgava eterna.

Seus filhos, herdeiros políticos e operadores ideológicos ainda resistem, mas a engrenagem da justiça é mais lenta do que muitos desejam — e mais certeira do que os oportunistas imaginavam. A narrativa de perseguição já não convence como antes. A farsa perde o brilho. A retórica se desgasta.

Democracia em reconstrução

O Brasil ainda sangra pelas cicatrizes deixadas pelo extremismo. Mas, ao contrário do que muitos previam, as instituições resistiram. O STF julga com independência. O Congresso não foi fechado. A imprensa segue livre. A Polícia Federal atua com autonomia. Não há salvadores, nem ditadores disfarçados — apenas um país tentando se reencontrar com a legalidade.

A possível prisão de Jair Bolsonaro é um marco simbólico e jurídico. Representa o encerramento de um ciclo em que o personalismo quase destruiu a democracia. Não é vingança. É justiça. E justiça, para um país que sofreu tanto nos últimos anos, é um passo essencial para que o Brasil volte a caminhar com equilíbrio, pluralidade e respeito à Constituição.

 

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