Brasil sai maior da COP30, apesar dos limites impostos pela Europa e da ausência dos EUA
O encerramento da COP30 em Belém deixa um balanço complexo, mas com um dado incontestável: o Brasil saiu politicamente maior do que entrou. A conferência evidenciou tanto a capacidade brasileira de articular consensos quanto os entraves internacionais que ainda limitam avanços mais robustos em temas cruciais, como combustíveis fósseis, financiamento climático e responsabilidade histórica dos países desenvolvidos.
- Liderança brasileira: pragmatismo e diplomacia ativa
A presidência brasileira conduziu negociações em múltiplas frentes, apostando numa diplomacia multilateral mais ágil e construtiva. O esforço de articular mais de 80 países em torno de um roteiro voluntário para a eliminação gradual dos fósseis mostra que o Brasil buscou alterar a correlação de forças, aproximando-se de nações vulneráveis e economias emergentes.
Mesmo sem vitória plena, o movimento consolida o Brasil como uma das vozes mais influentes do Sul Global e como um ator capaz de reposicionar a agenda climática com foco em justiça, financiamento e adaptação.
- Europa endurece e limita ambições
Se por um lado houve avanços, por outro as negociações escancaram o papel contraditório da Europa, que cobra ambição dos países em desenvolvimento, mas enfrenta fortes pressões internas — especialmente de setores industriais e energéticos — para não assumir compromissos mais profundos.
A resistência europeia foi decisiva para:
impedir a inclusão explícita dos combustíveis fósseis no texto final;
frear um cronograma mais claro de transição energética;
condicionar o financiamento climático a salvaguardas políticas e técnicas que dificultam o acesso dos países vulneráveis.
A postura europeia diluiu a ambição do pacote final e evidenciou o abismo entre discurso e prática no coração do velho continente.
- Financiamento: avanço real, mas ainda insuficiente
A decisão de triplicar os recursos para adaptação até 2035 é, sem dúvida, uma vitória. Ainda assim, fica evidente que:
não há clareza sobre fontes adicionais dessas verbas;
parte dos recursos depende de rearranjos internos dos próprios países desenvolvidos;
o ritmo de implementação dificilmente acompanha a velocidade dos impactos climáticos.
O Brasil, ao enfatizar adaptação, mostrou sensibilidade à realidade dos países tropicais — onde eventos extremos já são rotina, não previsão.
- A ausência estratégica dos EUA: menos bloqueios, mais liberdade
Um dos fatores silenciosos — mas decisivos — da COP30 foi a ausência formal dos Estados Unidos como força negociadora estruturante. Ao contrário de outras COPs, em que Washington atua como pivô da resistência ao abandono dos fósseis, sua ausência abriu espaço para que:
o Brasil conduzisse pautas sensíveis sem o tradicional veto norte-americano;
coalizões emergentes ganhassem protagonismo;
o debate fugisse da velha polarização EUA x China, permitindo novas combinações diplomáticas.
Sem os EUA, a Europa perdeu seu aliado preferencial — e a pressão sobre o Sul Global diminuiu, ao menos temporariamente.
- Resultado final: realismo diplomático
A COP30 termina com avanços concretos, mas também com frustrações. O Brasil queria mais. O mundo precisava mais. Mas, dentro das possibilidades diplomáticas, o balanço é positivo para o país:
– Liderança reforçada;
– Capacidade de articulação ampliada;
– Credibilidade internacional fortalecida.
Se a transição energética global ainda avança a passos curtos, o Brasil demonstra estar pronto para liderar — desde que encontre parceiros dispostos a caminhar na mesma direção.