Após a operação do governo do Rio de Janeiro que deixou 121 mortos, o governador, Cláudio Castro (PL), anunciou a criação de um “consórcio da paz” com governadores de oposição ao governo Lula (PT). Eles se reuniram hoje no Rio para discutir segurança pública.
O que aconteceu
Em entrevista à imprensa após a reunião, os aliados parabenizaram Castro pela operação, a mais letal da história do país. Estavam presentes os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PP), e a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou de forma remota.
Governador do Rio anunciou a criação de um “consórcio da paz” entre os estados, com sede no Rio. “Dentre o que conversamos aqui, uma proposta clara: a criação, no âmbito dos estados, segundo o governador Jorginho, do consórcio da paz. Um consórcio entre estados, no modelo de outros consórcios que existem, para que possamos dividir experiência, soluções e ações de combate ao crime organizado”, falou.
Eles não detalharam como o consórcio vai funcionar. Mello afirmou que há a possibilidade de envio de agentes. “Na proposta, vamos integrar os estados com todos os meios: contingente, inteligência, o que tiver que ser feito”, disse. Caiado também citou a possibilidade, dizendo que os policiais de Goiás “são bons alunos e aprendem rapidamente”, mesmo o Rio tendo “um tipo de estrutura habitacional que é totalmente diferente” da de Goiás.
Questionado sobre a diferença entre o consórcio e a PEC da Segurança Pública, Caiado criticou a proposta do governo federal. “O único objetivo do governo federal é tirar dos governadores as diretrizes gerais da segurança pública. É uma determinação que a Constituição de 1988 nos deu. Ele quer transferir aquilo para a diretriz geral ser do Ministério da Justiça. Não temos dificuldade na integração, temos dificuldade pela ausência do governo, falou.
A PEC da Segurança é uma das principais bandeiras do governo Lula. O texto, que tramita no Congresso, propõe integrar as políticas de segurança pública dos estados e municípios com a União.
Na terça-feira, quando deflagrou a operação, Castro acusou o governo federal de deixar o Rio “sozinho”. O governo Lula respondeu que não recebeu nenhum pedido de ajuda, e o governador se desculpou dizendo que não teve intenção de criticar o governo.
Ontem, ministros de Lula anunciaram, junto com Castro, a criação de um ‘escritório emergencial de enfrentamento ao crime organizado. Ele será coordenado pelo secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, e pelo secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo. O objetivo, segundo Castro, é que as ações entre o governo estadual e o federal sejam 100% integradas para agilizar processos entre as duas esferas.
Hoje, ao lado de Castro, os governadores fizeram uma série de críticas ao governo Lula, ao qual fazem oposição. Alguns deles —Tarcísio, Zema e Caiado— são cotados para concorrer à presidência contra Lula no ano que vem.
O governador do Rio, porém, negou que o grupo esteja fazendo uso político do caso. “O primeiro ponto foi de solidariedade ao Rio de Janeiro. Diferentemente do que achavam, foi uma reunião onde politizamos pouquíssimo. Falamos de uma ideia de segurança pública. Foi muito bonito, na fala dos governadores, a preocupação com nosso povo, com o cidadão que sai para trabalhar 5h da manhã, que fica querendo garantir a segurança de sua esposa e filhos”, disse.
Para Castro, a reunião entre governadores mostra “grande oportunidade” para mudar a segurança pública do Brasil. “Temos uma oportunidade muito clara de mudar a segurança pública do nosso país com integração e diálogo. Mas, sobretudo, com coragem e efetividade. Coragem e efetividade serão, sim, elementos completamente presentes a partir do que aconteceu no Rio de Janeiro”, disse.
Castro também repetiu que classifica as facções criminosas como “organizações narcoterroristas”. “Infelizmente, a nossa lei antiterrorismo fala sobre tudo, menos sobre ações terroristas. Por isso, o Rio de Janeiro tem tentado classificar, não por ideologia, mas por atitudes, essas organizações como narcoterroristas.”
Cinco governadores presentes
Governadores de esquerda não foram chamados para a conversa. Mas os presentes afirmaram que eles serão convidados a integrar o consórcio. Castro e Mello mencionaram que a ideia é integrar todas as unidades federativas. “Se possível fosse, os 27 estados. Para que a gente troque experiência, material humano e faça compras de equipamentos de forma consorciada, porque jogamos o preço para baixo”, disse o governador de Santa Catarina.
Sem citar fontes, Zema diz que Brasil é o “campeão mundial dos homicídios” e “campeão mundial das pessoas inocentes assassinadas”, para criticar Lula. “Temos um presidente que vai lá fora tentar negociar paz em guerra da Ucrânia e deixa aqui 44 mil brasileiros morrendo por ano.”
Autoridades da segurança pública do Rio também participaram da reunião. Estavam presentes o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, o secretário da Polícia Militar, Marcelo Menezes, e o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi.
Operação no Rio
Total de mortos da operação chegou a 121, segundo a Polícia Civil. O número engloba quatro policiais e “117 suspeitos”, disse o órgão.
Operação tornou-se a mais letal do país, passando o massacre do Carandiru. Em 1992, o complexo penal em São Paulo foi palco da maior chacina ocorrida em uma prisão brasileira. O episódio durou 30 minutos e provocou a morte de 111 detentos.
Polícia do Rio prendeu 113 pessoas e apreendeu dez adolescentes. Entre os detidos, 33 são de outros estados. Segundo a Polícia Civil, foram apreendidas 118 armas, entre elas 91 fuzis. O número exato de drogas e munições apreendidos não foi informado pelos órgãos e ainda é contabilizado.
Fonte: UOL Notícias