Quase metade das casas na Bahia não têm rede de esgoto; mais de 770 mil não possuem água potável
Mais de 1 milhão e 900 mil casas na Bahia não têm rede de esgoto. O dado alarmante representa 40,5% das residências baianas que possuem algum tipo de banheiro, e evidenciam que a coleta por rede geral ou fossa séptica é o serviço de saneamento básico com menor cobertura no estado.
Os dados foram coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), em 2022. A deficiência no saneamento reflete no abastecimento com água potável: 771 mil imóveis baianos não têm acesso.
Esse problema não atinge apenas as cidades interioranas. Em Salvador, por exemplo, diversas comunidades não têm recolhimento de lixo, esgoto e água encanada. Uma delas é a Vila Atalaia, que fica no bairro de Cassange.
Na casa do pedreiro Antônio de Jesus, não há coleta de esgoto e de lixo – que costuma ser armazenado em buracos e depois queimado.
“A sociedade, às vezes, parece que não liga para as pessoas carentes, aí a gente fica nessa situação. A gente precisa de saneamento básico, água encanada, energia. É uma situação precária que a gente vive na Vila Atalaia”, pontuou ele.
Em Porto Seguro, segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2021, e que revelou que 82% da população vive na zona urbana e 18% na zona rural; a população sem água representa 34,91% e a população sem esgoto são 57,951%. Ainda, de acordo esses dados, 27,64% não usufruem do serviço de coleta de lixo.
Para o engenheiro sanitarista Jonatas Sodré, a falta de coleta e tratamento do esgoto gera uma reação em cadeia, afetando outros serviços.
“A falta de esgoto leva também a um problema de drenagem urbana, que leva a um problema de saúde pública, que faz com que as crianças deixem de ir para a escola, que faz com que as mães deixem de trabalhar, e isso acomete principalmente as populações mais vulneráveis”, avaliou Jonatas.
O serviço de abastecimento de água na Bahia chega a 84% das casas, um percentual abaixo da média nacional, que é de 85,5%. Essa cobertura mostra uma tendência de queda, já que em 2016, a rede de abastecimento chegava a 85,3% dos domicílios.
Na casa do também pedreiro Antônio Barbosa, ainda na Vila Atalaia, a água utilizada é recolhida pela chuva há pelo menos 12 anos. Ele montou um sistema de tubulação para fazer a coleta, e a armazenada em uma espécie de tanque, concretado ao chão.
“Eu uso essa água para o banho, para beber tem que ferver, porque tem que tratar. Ela dura oito meses a gente usando. E quando não tem, são os carros-pipa que abastecem”, descreveu Antônio.
O engenheiro sanitarista explica que é possível que uma parte das famílias nunca tenham acesso à rede de abastecimento de água, por falta de recursos.
“Ainda vai existir uma parcela da população baiana que, felizmente ou infelizmente, a tecnologia não vai chegar. São pessoas que vivem em sítios isolados, não é possível construir uma rede de água para atender só aquela família. São pessoas que vivem em pequenas comunidades isoladas, que precisam ser atendidas por outros sistemas isolados”.
Em Juazeiro, quinta maior cidade da Bahia, quilombolas da comunidade Alagadiço, que fica na zona rural, precisam bombear a água diretamente de um rio. Ela é armazenada em uma caixa d’água, e depois segue para as torneiras sem nenhum tipo de tratamento.
“O perigo é no teto da chuva, porque vem aquela água barrenta, com bagaços. Às vezes as crianças ficam com dor de barriga, às vezes os mais velhos. Aqui não existe água tratada, não tem”, destacou a pescadora Maria Helena Nogueira.
Fonte: G1 Bahia