José Roberto Marinho, da Globo, e Arminio Fraga querem privatizar paraíso no sul da Bahia
Empresa de cultivo de frutas planta condomínio em áreas protegidas por lei federal. José Roberto Marinho e Armínio Fraga são sócios. Comunidades são ameaçadas para que deixem seus territórios
Em uma das porções mais preservadas de toda a Mata Atlântica, a Mangaba Cultivo de Coco avança com um loteamento de luxo que poderá ocupar área semelhante a 1.700 campos de futebol, ou um quinto da ilha de Boipeba, no litoral sul da Bahia.
O projeto Turístico-Imobiliário Fazenda Ponta dos Castelhanos prevê a construção de residências de alto padrão, pousadas, aeroporto, píer para mais de 150 barcos e um campo de golfe.
A empresa tem como sócios José Roberto Marinho e Armínio Fraga. Marinho é um dos filhos do jornalista Roberto Marinho (1904-2003) e um dos herdeiros do Grupo Globo. Ele controla a Fundação Roberto Marinho, criada por seu pai, em 1977. Brasileiro naturalizado norte-americano, Fraga é economista, ex-presidente do Banco Central no governo (1999-2003) Fernando Henrique Cardoso e sócio fundador da Gávea Investimentos, banco de capital nacional e estrangeiro.
Outra sócia da empreitada é a Filadélfia Empreendimento Imobiliários e Participações. Ela pertence a Antônio Carlos de Freitas Valle, um dos ex-donos do Banco Matrix, cujas operações foram encerradas por envolvimento em escândalos financeiros.
Em meados de março, órgãos ambientais baianos e a empresa de frutas assinaram um “termo de compromisso” reforçando o sinal verde ao megaempreendimento. Na ocasião, o secretário de Meio Ambiente João Carlos Silva disse que o “grande atrativo dessa região é o ativo ambiental que se encontra ali. Isso tem que ser preservado, pois é o que torna a área relevante”. A realidade do projeto e as denúncias de moradores tradicionais mostram outro cenário.
O acordo governo-empresa prevê pouco mais de R$ 180 mil para “educação ambiental” e um “projeto socioambiental” na Área de Proteção Ambiental das Ilhas de Tinharé e Boipeba. O Conselho daquela Unidade de Conservação estadual está desativado desde 2004 e, assim, não avaliou o projeto.
Além disso, o empreendimento prejudicará o dia-a-dia de comunidades centenárias que vivem da pesca, da pequena agricultura e do extrativismo. Seu estilo de vida ajudou a manter grande parte do verde de Boipeba. O povoado de São Sebastião, ou Cova da Onça, no extremo sul da ilha, será encurralado pelo projeto turístico. Campos de mangaba nativos que posicionam a região entre as maiores produtoras do país estão na mira do desmatamento.
“É violência mesmo. Sem nosso território, a comunidade não sobreviverá, não tem como crescer. Como ficam nossos filhos e netos? Será que nossa única possibilidade será sair daqui e migrar para regiões onde está crescendo a especulação imobiliária, com alto custo de vida?”, pergunta o nativo da Cova da Onça. O presidente da associação de moradores, Raimundo Esmeraldino Silva (56), o Siri disse: “Nunca passamos necessidade, sempre tiramos nosso sustento do território, da agricultura, do extrativismo e da pesca. Estamos pedindo socorro, pois estão acabando com nossa cultura e nossa identidade”, desabafa o pescador.
A reportagem não localizou os contatos da Mangaba Cultivo de Coco, pois os registrados na Receita Federal são de uma agência de contabilidade, que desconhece telefone e e-mail da empresa. Apesar do grande porte, tanto a mesma quanto o projeto Turístico-Imobiliário Fazenda Ponta dos Castelhanos não possuem sequer um website.
Fonte: ECO