O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recepcionou o grupo de 32 pessoas resgatados no domingo na Faixa de Gaza, que chegou ao Brasil na noite desta segunda-feira. Na Base Aérea de Brasília, Lula recebeu os repatriados ao lado da primeira-dama, Janja da Silva, e seis de seus ministros.
Lula afirmou que a chegada dos 20 brasileiros, 7 residentes do
Brasil e três parentes era o “coroamento de trabalho muito sério que a gente deve a muita gente”, em elogiou ao esforços de repatriação do Itamaraty e da Força Aérea Brasileira (FAB), e reforçou o tom crítico a Israel, que vem bombardeando Gaza desde que o grupo terrorista Hamas atacou seu território em 7 de outubro.
— Nunca vi uma violência tão brutal, tão desumana contra inocentes. Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo, o Estado de Israel também está cometendo um ato de terrorismo — afirmou.
Com um semblante de alívio no rosto e várias bandeirinhas do Brasil na mão, os resgatados foram cumprimentados e aplaudidos por Lula e o restante das autoridades presentes ao descerem do avião. No final da fila para sair da aeronave, duas crianças seguravam uma bandeira do Brasil. Na frente delas um homem erguia uma faixa da Palestina e gritava “Obrigado Brasil!”.
Lula começou seu pronunciamento ao lado de seus ministros — que exibiam um sorriso de orgulho pela ação do governo — agradecendo jornalistas, representações diplomáticas e ministros presentes. Depois, convidou o brasileiro-palestino Hasan Rabeen, de 30 anos, e a jovem Shahed al-Banna, de 18 anos, para falar.
Emocionada, al-Banna — uma das jovens que carregava a bandeira do Brasil — que morou na Faixa de Gaza apenas por um ano e meio, falou sobre a morte de parentes e amigos. Ela contou que foi a Gaza para que sua mãe, acometida pelo câncer, pudesse se despedir da família.
— Não acredito que estou viva, que estou aqui. Achei que fosse morrer — disse a jovem
Ela e Rabeen agradeceram os esforços do governo pela repatriação e reforçaram os pedidos para que os familiares que continuam em Gaza possam ser ajudados e retirados da zona de guerra.
Lula afirma que governo federal já está trabalhando para isso.
— Vamos tentar fazer todo o esforço que tiver ao alcance da diplomacia brasileira para trazer todos os brasileiros que estiverem lá — afirmou Lula, acrescentando que familiares, mesmo não nacionais, serão buscados. — Enquanto tiver lista e possa de se tirar uma pessoa, a gente vai estar à disposição.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reiterou que as embaixadas do Brasil continuarão trabalhando para localizar outros brasileiros que desejem voltar. Além disso, afirmou que a diplomacia brasileira continuará trabalhando para tentar mediar uma solução para o conflito.
— Da mesma forma que continuaremos trabalhando no Conselho de Segurança da ONU para que se possa encontrar uma solução diplomática que crie uma pausa humanitária de forma que possam sair os feridos, reféns e também os nacionais de outros estados — completou
— Hoje, pedi ao Mauro [Vieira] que tentasse um telefonema com a China, pois a China preside o Conselho de Segurança [da ONU] nesse momento, para o conselho continuar cobrando dos presidentes um comportamento humanista, de afeto com crianças e mulheres — disse o presidente Lula.
Vieira encerrou sua fala desejando boas-vindas aos resgatados recém-chegados
— Bem vindos os que chegaram e que encontrem no Brasil a tranquilidade para continuar suas vidas — disse o ministro.
A recepção contou com a presença de seis ministros do governo Lula: Mauro Vieira (Relações Exteriores), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) , Nísia Trindade (Saúde), Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência).
O ex-chanceler e Assessor-Chefe da Assessoria Especial da Presidência, Celso Amorim e os comandantes da Aeronáutica, tentente-brigadeiro do ar, Marcelo Kanitz e do Exército, general Tomás Paiva também estavam na Base Aérea de Brasília.
Alojamento da FAB
O voo da Força Aérea Brasileira (FAB), um VC-2 , pousou às 23h24. Os resgatados ficarão hospedados por dois dias em um alojamento da Aeronáutica, em Brasília. Lá, eles receberão cuidados médicos, imunização e apoio psicológico.
Três crianças e uma gestante começaram a receber atendimento médico após chegarem em Brasília. Havia informação que duas crianças estavam desnutridas, com a perspectiva de que recebessem soro e fossem levadas a um hospital.
O resgate aconteceu após longas negociações diplomáticas do Brasil e mais de um mês depois do início do conflito entre Israel e o Hamas.
Nesta segunda-feira, Lula disse que a retirada dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza dependia da “boa vontade de Israel”.
— Estamos trazendo o que foi possível liberar com muito sacrifício, porque dependia da boa vontade de Israel, dependia da quantidade de pessoas, que a gente não sabia — disse o presidente, durante cerimônia de sanção ao texto que atualiza a Lei de Cotas, no Palácio do Planalto.
Lula também contou sobre a sua rotina de conversas com líderes para negociar a saída do grupo.
— Todo dia ligava de manhã, de tarde, com ministro de Israel, ligava com ministro do Egito, com o nosso embaixador e depois conseguimos trazer as pessoas — disse Lula.
Várias listas
Estrangeiros foram autorizados a deixar a Faixa de Gaza desde 1º de outubro, após acordo mediado entre Catar, Israel, Egito e o Hamas. No entanto, o grupo de brasileiros e parentes só recebeu autorização para deixar a zona de guerra após 11 dias, na última sexta-feira.
Entre os resgatados que chegaram ao Brasil:
- Um irá para Cuiabá
- Um irá para Novo Hamburgo
- Dois vão para Florianópolis
- Quatro ficam em Brasília
- 24 vão pra São Paulo
Dos brasileiros e familiares que vão seguir para São Paulo, metade será encaminhada a um abrigo acostumado a receber refugiados, no interior do estado.
Fonte: O Globo