“Porto Seguro não possui acessibilidade para pessoas com deficiência”

Não se engane, acessibilidade é muito mais do que construir rampas.

O Jojô Notícias entrevistou nesta quinta (25) Luciene Oliveira Carneiro, Presidente da Fábrica do Ser (Associação das Pessoas com Deficiência em Porto Seguro), que nos revelou fatos impressionantes da relação ‘Município de Porto Seguro versus Acessibilidade’.

Luciene, que é professora especialista em educação para alunos com deficiência, já milita na área há alguns anos, quando começou a realizar um acompanhamento juntos aos pais de seus alunos. O trabalho evoluiu e, somado a outros fatores, surgiu a Fábrica do Ser, que busca assegurar os direitos das pessoas com deficiência.

Sem sede própria, a Associação se reúne na Praça do Trabalhador (Mercado do Povo) e não conta com nenhuma ajuda pública ou privada. Todas as despesas são rateadas entre os seus associados.

A realidade de uma pessoa com deficiência é dura, as adversidades não dão trégua. Quem tem o poder de ajudar muitas vezes não o faz. Contudo, a maioria dos problemas apontam para uma palavra chave: ACESSIBILIDADE!

Perguntada se a cidade de Porto Seguro possui acessibilidade, a Professora Luciene não exitou em afirmar categoricamente que não: “Não, acessibilidade é muito mais do que rampas em vias ou em prédios públicos.”

Isso mesmo, engana-se quem pensa que o conceito de “acessível‟ está entrelaçado apenas no que diz respeito à mobilidade. A ideia também se refere a outras esferas, como o acesso à educação e cultura, o trabalho, a saúde e, claro, o lazer.

Definitivamente, não temos acessibilidade em Porto Seguro.

Quando o assunto é educação, temos uma máscara na realidade porto segurense. Isto porque vagas são oferecidas, mas não há aparatos para que o aluno com deficiência continue estudando. “O aluno pode até ter ‘acesso’ à escola, mas não tem acesso às condições necessárias de aprendizagem. Falta professor, falta cuidador”, afirmou Luciene.

Acesso à escola é diferente de acesso ao ensino. Matriculado, o aluno com deficiência sofre com a ausência de acompanhamento de profissionais na área. Sofre também com a falta de condições mínimas de aprendizagem, como ter alguém que saiba utilizar a língua de sinais. Falta material em braile e computadores adaptados. Por consequência, acabam por abandonar a escola.

“Falta formação continuada aos profissionais, tecnologia assistiva para os estudantes com deficiência, professores especialistas na área da educação inclusiva, professores bilíngues para atender os estudantes surdos. Enfim, é necessário uma provocação por parte dos pais e responsáveis e pessoas com deficiência, para que sejam criadas políticas públicas de inclusão com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”, acrescentou a Professora.

Alia-se a tudo isso o problema que este aluno tem de locomoção até a escola, pois não há transportes com acessibilidade.

E por falar em transporte, pasmem, em Porto Seguro só há cinco ônibus (coletivo) com o elevador em funcionamento. A informação vem do cadeirante Gilmar Dias de Miranda, também presente na entrevista. “De tanto penar nos pontos por esperar algum ônibus em que o elevador esteja funcionando, eu percebi que apesar de a maioria dos ônibus terem elevador só cinco deles funcionam de fato, e eu inclusive decorei os números destes ônibus: 75001, 75003, 70601, 70602 e 71606. As vezes nem o motorista e nem o cobrador sabem operar o elevador”, afirmou.

Quanto a locomoção, ainda há muito a se fazer. Rampas só se veem no centro, como se não existisse cadeirantes nos bairros. Quando há rampas não se tem o nivelamento das calçadas. “As vezes subimos em uma rampa e temos que voltar porque lá na frente percebemos que a calçada desnivelou ou porque não tem outra rampa para descermos”, acrescentou Gilmar.

Prédios públicos em Porto Seguro não tem acessibilidade, a começar pela Câmara de Vereadores, onde um cadeirante por exemplo não pode subir na tribuna ou não pode ir no gabinete do vereador. Ministério Público, Bancos, Defensoria Pública, sede da OAB, todas as Secretarias Municipais, inclusive as instalações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social são exemplos de locais que carecem de acessibilidade. Faltam rampas, pisos táticos, instalação de barras nas paredes, sinalizações com audiodescrição, etc. Falta, sobretudo, funcionalidade.

Perguntada sobre o mercado de trabalho, a Professora Luciene disse que as empresas querem selecionar o candidato pela sua deficiência. “Mas as pessoas não escolhem a deficiência que têm”, acrescentou. Na maioria das vezes é escolhido o candidato que pode se locomover (surdo), os demais normalmente encontram muito mais dificuldade.

Falta qualificação entre as pessoas com deficiência, problema que é oriundo da má qualidade da educação oferecida. A maioria esmagadora destes trabalhadores ganham um salário mínimo.

Falta muita acessibilidade. Garantir uma cidade acessível é oferecer as mesmas oportunidades a todos os seus moradores, mas de modo a contemplar as diferentes necessidades de cada um.

Esperamos que os gestores tenham planos de acessibilidade para Porto Seguro, afinal de contas deficiente não são as pessoas, e sim a nossa cidade.

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Comentários (1)
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  • Jose

    No toatoa tem cadeira pra entrar nagua. Nota 1000