O que está acontecendo com o carnaval de Porto Seguro?

Atribuir à crise econômica a debandada, além de ser uma análise superficial, só reforça o amadorismo que tem caracterizado o planejamento, as ações e intervenções no turismo em nossa cidade nos últimos anos.

Sempre muito badalado e concorrido, o carnaval de Porto Seguro vem, nos últimos anos, perdendo musculatura e cedendo espaço para outros destinos turísticos nacionais, também procurados pelos foliões nesta época.

Durante um bom período o carnaval cobiçado pelos turistas e que fazia a alegria das agências de viagens no Brasil, foi, indiscutivelmente, Salvador e Porto Seguro. Ultimamente, os ventos andam soprando para outras paragens.

Atribuir à crise econômica a debandada, além de ser uma análise superficial, só reforça o amadorismo que tem caracterizado o planejamento, as ações e intervenções no turismo em nossa cidade nos últimos anos.

No que pese os esforços relatados pela secretaria de turismo para incrementar o setor no município, nota-se que a falta de coordenação e sinergia com outras secretarias definem os pífios resultados.

Enquanto permanecer o abandono da administração em relação à infraestrutura, educação, saúde, mobilidade e outros setores estratégicos da administração, os resultados com o turismo não serão alcançados, tornando os esforços em vão.

Não dá pra fidelizar o turista com hospitais e postos de saúde fechados, trânsito caótico, ruas esburacadas, atendimento improvisado, enfim, uma bagunça generalizada, que culminou, neste ano, com a incerteza política de uma prefeita afastada e substituída por um prefeito que se recusa a assumir o cargo e suas atribuições.

Pra se ter uma idéia, nem uma máscara vimos pendurada por aí. A única que se tem conhecimento é a do bloco dos apaniguados e propinados da prefeita afastada, que ainda entoam o refrão de “volta prefeita”, mesmo assim sem graça e remendadas.

Porto Seguro, pela sua geografia, favorece a ocultação dos graves problemas que lhe afetam. Poucos visitantes e turistas sabem da existência do Baianão, do Parque Ecológico, do Cambolo, do Mirante, do hoje denominado “Complexo do Frei Calixto”, sem falar dos distritos de Vera Cruz, Pindorama, São Geraldo, Itaporanga, Sapirara e diversas aldeias e lugarejos abandonados à sorte por anos, por administrações irresponsáveis, inconseqüentes, que impõe sofrimentos e humilhações irreparáveis aos moradores dessas localidades.

A ignorância e insistência em mostrar que Porto Seguro é apenas a cidade baixa, Arraial, Trancoso e Caraíva, acabam tornando o turista cúmplice e agente conservador do estado deplorável e segregador que vivemos.

Desprezar e abandonar essas populações são um erro histórico imensurável, com conseqüências econômicas, sociais e culturais previsíveis e já latentes em nossas relações.

Voltando ao carnaval, propriamente dito, o que ainda consegue se salvar são os blocos culturais, fundados e organizados por moradores nativos, e que às duras penas resistem à intromissão da administração, que tenta com um mísero apoio financeiro, colher os louros do evento, e capitalizar a alegria espontânea e irreverente dos seus participantes.

São várias as alternativas para manter e ampliar o destino nesse período, e, com certeza, não dependem de contratos milionários de atrações decadentes, sem expressão e verdadeira caixa-preta desses eventos.

Discutir com a comunidade e autoridades responsáveis do município, e definir prioridades, é um bom aceno e exemplo de novos tempos e cidadania reclamada, mesmo em voz abafada, por todos.

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