O que falta para que o afastamento da ex-prefeita de Porto Seguro seja consolidado

As únicas coisas que voltaram neste país foram a febre amarela e o descrédito político

Passados 75 (setenta e cinco) dias da deposição do cargo da ex-prefeita Claudia Oliveira, a impressão que se tem é que seu retorno está cada vez mais improvável. Os sinais claros vêm da própria justiça, que negou, em todas as ocasiões, os recursos implantados pelo grupo, muitos deles nem chegaram a ser analisados, tamanho a improcedência. Os próprios partidários e correligionários, já não sustentam a menor confiança de que isso possa acontecer.

O país vive, no momento, um ciclo de “idas”. Foram-se as conquistas sociais do trabalhador, com a reforma trabalhista já em vigor, a aposentadoria, com a reforma da previdência que se tenta implantar, a seriedade na política, e mais um rosário de comportamentos éticos que deveriam ser padrão na sociedade brasileira atual.

As únicas coisas que voltaram neste país foram a febre amarela e o descrédito político

Contudo, existem os desesperados que não suportam a idéia de que perderam as mamatas.

Esses ainda se batem como no desespero de quem vê o barco se afundando.

Recentemente deflagraram uma campanha de forte cunho emocional, tendo como pano de fundo enorme apelo religioso, como se Cristo, no perdão, apóiasse esses procedimentos de usurpar do pobre e fomentar a pobreza.

Os aliados, apaniguados e viúvas do governo “Pra viver e ser feliz”, comandado pelo outrora imperador Robério Oliveira, e que tinha como representante na capitania de Porto Seguro sua esposa, Claudia Oliveira, apelam para a chantagem emocional, como último ato na tentativa de ecoar um insosso e descabido “Volta Claudia”.

O refrão é repetido insistentemente na rádio “cascata”, de propriedade do clã oliveira, agora dirigida efetivamente pelo ex-secretário afastado de  relações institucionais, Mauricio Pedrosa.

Os argumentos usados para o clamor se baseiam numa demagogia profunda e tem como inspiração a hipocrisia explícita.

Num primeiro momento, relembram as  obras executadas pela comandante da capitania de Porto Seguro, no primeiro mandato, com uma excelência que remota à construção de Brasília, tanto no conteúdo da obra, quanto no brilhantismo do saudoso ex-presidente Juscelino Kubitschek. Tudo isso acompanhado de postagens em redes sociais de fotos pessoais e textos apaixonados, invocando uma versão tupiniquim e de excelente mal gosto de um melodrama com final já conhecido.

Não bastasse a versão mal elaborada de “Romeu e Julieta”, para encenar o falso amor e desrespeito da ex-gestora pela cidade, entra em cena também a hipocrisia.

Insistem e entoam a mesma cantiga ensaiada e acompanhada pela câmara municipal de que não há provas contra a comandante, e que as investigações correm em sigilo de justiça.

O curioso e trágico na comédia é que os mesmos autores que defendiam as acusações da polícia federal contra o ex-presidente Lula, como verídicas e procedentes, agora as nomeiam fantasiosas e de cunho político. “Aos amigos, a clemência e misericórdia, aos inimigos, o rigor da lei”. Pensam e agem assim.

Para sacramentar os argumentos fajutos, produziram, paralelamente, uma fábula política onde o prefeito de Salvador ACM neto, em parceria com o deputado Arthur Maia, e o presidente corrupto Michel Temer, são os idealizadores do processo de afastamento do trio “fraternos”. Tudo para conter a ascensão do imperador e facilitar as articulações do baixinho ACM neto- provável candidato a governador-, nas terras do descobrimento. Mais outra falácia.

Incrível a falta de seriedade e de cidadania desses indivíduos, se julgam poderosos e inatingíveis com os cargos e a posição que ocupam, consideram todos, sem exceção, servos e ignorantes, e para manterem suas vantagens pessoais, encenam e recitam qualquer coisa.

Na verdade o que sustentava o “Pra viver e ser feliz”, e que agora está vindo à tona, era o irresponsável empreguismo e clientelismo implantado pelo imperador, também afastado.

O município de Porto Seguro é o maior empregador do sul e extremo sul da Bahia.

Para se ter uma idéia do tamanho do descalabro, o município supera, em milhares de trabalhadores, a Veracel – multinacional produtora de celulose -, que para produzir um milhão de toneladas de celulose anual emprega 2,900 (dois mil e novecentos) funcionários. O município de Teixeira de Freitas, no extremo sul baiano, cidade com 150.000 habitantes e com uma economia pujante é administrada com 4.200 funcionários entre efetivos e contratados.

Aqui, na terra natal do Brasil, temos, pasmem, 3.619 efetivos e 3410 contratados, totalizando 7.029 funcionários em folha.

Se adicionarmos os “propinados”, que nem são efetivos, muito menos contratados, essa conta fecha os 7.500 com facilidade.

Grande parte dos efetivos e contratados trabalha e se dedicam às suas funções. Os “propinados”, pouco ou nada fazem, e são os que mais lamentam e choram o afastamento da gestora, por razões óbvias.

São verdadeiros Pitt-bulls da administração denunciada e afastada e, certamente, responsáveis também, pelos mais de 200 milhões desviados dos cofres públicos, em fraudes e licitações, de acordo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal.

Sugiro àqueles que consideram a ex-gestora da capitania inocente e injustiçada, que vão pras ruas. Convoquem manifestações e atos públicos, promovam passeatas, ouçam a voz rouca das ruas. Este é o caminho consciente e democrático. Não foi desta forma que entidades como a OAB local, a maçonaria e outras procederam, em apoio ao impeachment da ex-presidenta Dilma. Que façam o mesmo! Confiram se há respaldo popular nessa “conversa fiada” de que não há provas, nesse discurso maroto da “rádio cascata” tentando evangelizar um fato político, escamoteando a verdade com versões fantasiosas daqueles que sempre costearam o alambrado.

Voltando ao enunciado da matéria, diria que o que efetivamente falta para que o afastamento da alcaide seja definitivo, não é decisão da justiça, mas coragem e postura do prefeito Beto Nascimento em assumir de “fato”, enquanto não for de “direito”, o cargo que lhe foi conferido. Botar tinta na caneta e substituir o líder do governo, exonerar um monte de secretários e um bando de funcionários, ignorar os “propinados”, se livrar do fantasma de “Tomé de Souza”, impor seu modelo de gestão e conquistar a confiança popular.

Qualquer tentativa de governar sobre a sombra do “Pra viver e ser feliz” se revelará inútil e fadada ao fracasso.

Se tiver ou pretende manter aspirações políticas, e se não deseja que o seu governo seja caracterizado como a continuidade do governo do “Pra viver e ser feliz”, que o faça logo.

Aos ventríloquos e adoradores do governo que se foi, comunico: “o governo “pra viver e ser feliz” morreu, sem choro e nem vela, apenas com uma fita amarela, gravada com o nome dela”.

 

 

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