Especialistas analisam características dos discursos dos candidatos à Presidência

Falar em público – e para o público – é uma das principais tarefas das pessoas que ocupam cargos políticos. Transmitir uma mensagem de forma clara e ter um discurso que engaje os eleitores podem ter um peso determinante no êxito ou no fracasso nas urnas durante a corrida eleitoral.

Não por acaso, um dos sinônimos para “deputado” ou “senador” é o termo “parlamentar”. A palavra tem origem no vocábulo em latim “parlar”, que significa justamente “falar”, como explica o professor de português Sérgio Nogueira. Daí vem também parlamento para se referir ao Congresso Nacional, local de trabalho dos políticos.

g1 conversou com especialistas que analisaram as características do discurso dos candidatos à Presidência da República mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos.

Entre os pontos avaliados estão:

  • Capacidade de conexão com o interlocutor;
  • Dicção;
  • Tom de voz;
  • Expressão corporal; e
  • Controle emocional.

 

A especialista em oratória Bianca Celoto observa que os concorrentes alteram o tom dos discursos de acordo com a ocasião. Já a fonoaudióloga Leny Kyrillos aponta que o cansaço provocado por uma campanha eleitoral – seja físico ou mental – afeta diretamente na capacidade de comunicação dos políticos.

Confira abaixo pontos positivos e negativos no discurso de cada candidato, seguindo a ordem da posição na última pesquisa do Ipec:

Lula (PT)

Pontos positivos

  • “Lula tem um apelo popular absurdo, porque fala a língua das pessoas, tem a habilidade de simplificar o discurso, além de demonstrar emoção”, afirma Leny.
  • Para Bianca, o ponto forte na oratória é a capacidade de criar conexão com o público por meio da narrativa e da expressão corporal.

 

Pontos negativos

  • “Os pontos negativos, sem dúvida, são a dicção e a voz, que está prejudicada por conta da idade”, diz Bianca.
  • “O Lula passa a ideia de grande esforço e falta de vitalidade ao falar por causa da voz alterada”, indica Leny.

 

Pontos positivos

  • Na avaliação de Bianca, uma das características que favorecem o discurso de Bolsonaro é a conexão que ele estabelece por meio da simplicidade da fala.

 

Pontos negativos

  • Para Leny, em alguns momentos, ao adotar um discurso com característica de mais autoridade e menos conexão, Bolsonaro gera menos proximidade com as pessoas, além de apresentar expressões faciais rígidas e ter uma articulação vocal travada, “o que constrói uma percepção de agressividade contida”.
  • Assim como Lula, o ponto negativo de Bolsonaro é a dicção, na avaliação de Bianca.

 

Ciro Gomes (PDT)

Pontos positivos

  • Para Bianca, a oratória de Ciro é a mais apurada entre todos os candidatos, já que utiliza linguagem conotativa e foge do discurso literal: “Isso aumenta o nível de convencimento”.
  • conexão com o público gerada pela postura corporal e pelas expressões também é um fator favorável para Ciro, segundo Leny.

 

Pontos negativos

  • Leny avalia que os discursos verbal e não verbal de Ciro são dúbios em alguns momentos, ponto que pode confundir o entendimento da mensagem. Ela também destaca o estilo passivo-agressivo do candidato: “Ele pode não demonstrar na fala, mas demonstra o incômodo de forma não verbal”.
  • Segundo Bianca, o ex-governador é extremamente rebuscado e, às vezes, complica em vez de simplificar, o que pode dificultar o raciocínio do eleitor.

 

Simone Tebet (MDB)

Pontos positivos

  • Leny considera Tebet a melhor oradora entre os quatros candidatos por demonstrar controle da situação por meio de um tom de voz sereno;
  • Bianca avalia que a candidata tem uma oratória limpa, um vocabulário acessível e boa dicção, além de buscar conexão com o eleitorado feminino por meio do ajuste de linguagem.

 

Pontos negativos

  • No entanto, Bianca pontua que, em alguns momentos, principalmente no vídeo, Tebet demonstra falta de traquejo e pode parecer robótica.
  • Leny afirma que o controle de Simone, por outro lado, pode causar a impressão de artificialidade: “É um tipo de discurso que corre o risco de passar uma ideia de menos calor, de menos emoção”.

 

Atenção aos números

Bianca Celoto chama atenção para uma questão que pode passar despercebida pelos eleitores em meio a um discurso bem elaborado e uma oratória convincente: o uso intencional de dados imprecisos ou errados, que pode ser classificado como desinformação e confundir a população.

“Tanto Lula quanto Bolsonaro e Ciro usam muitos dados, eles vão jogando números. O ponto é que os dois usam dados errados”, observa. “Do ponto de vista de oratória, para convencer quem está assistindo, isso é chamado de ‘elemento logos’, que é da parte da lógica e aumenta a credibilidade da pessoa quando ela fica usando muito dado”, explica.

Por G1 Gustavo Honório* Com supervisão de Ricardo Gallo

 

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