Uma das principais atrações turísticas de Lisboa, o Elevador da Glória, descarrilou e tombou nesta quarta-feira, deixando 15 pessoas mortas e cerca de 20 feridas, incluindo uma criança de três anos. Segundo o jornal português Diário de Notícias, equipes de emergência e policiais estão no local, na tentativa de resgatar pessoas que ainda estão presas às ferragens. Mais de 62 agentes e 22 veículos foram deslocados para o acidente, que teria ocorrido no trecho da Avenida da Liberdade.
Em nota, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou o acidente. “O Presidente da República apresenta o seu pesar e solidariedade às famílias afetadas por esta tragédia e espera que a ocorrência seja rapidamente esclarecida pelas entidades competentes”, afirma o texto publicado no site da Presidência, que decretou um dia de luto nacional na quinta-feira.
O Ministério Público de Portugal, por sua vez, abriu um inquérito para investigar o episódio. Após o acidente e antes da chegada do resgate, alguns passageiros chegaram a deixar as ferragens pelas janelas por conta própria. A Festa do Livro no Palácio de Belém, que iria decorrer entre quinta-feira e domingo foi cancelada pela Presidência do país.
A causa do acidente, de acordo com o jornal Público, foi a quebra no cabo de segurança do Elevador da Glória. Ouvido pelo jornal, o especialista em elétricos Mário Vieira disse que o elevador tem um sistema de tração elétrico que dá a força necessária para a subida, com um desnível acumulado de 48 metros. É a tração eléctrica, segundo ele, combinada com um cabo de segurança que faz a ligação entre as duas cabines.
O presidente da Carris, responsável pela gestão do Elevador, disse a jornalistas para apresentar as condolências às famílias das pessoas que morreram no descarrilamento da Glória, garantindo que a transportadora tem “protocolos excelentes” de segurança. Ele ainda afirmou que há “um inquérito” interno a decorrer para apurar as causas do incidente.
— Este é um dia de consternação. No que diz respeito à manutenção, o protocolo foi cumprido. Há 14 anos a manutenção é feita pela mesma empresa. Estamos apurando o que aconteceu, a investigação está em andamento e lembro que também há entidades externas investigando — pontua o representante da empresa, enfatizando: — Quero dizer que a Carris valoriza a segurança.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recorreu ao X para lamentar, em português, o descarrilamento do Elevador da Glória. “É com tristeza que tomei conhecimento do descarrilamento do famoso ‘Elevador da Glória’. Os meus sentimentos estão com as famílias das vítimas”, escreveu von der Leyen.
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— Lisboa está de luto — disse Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que esteve no local. — É uma tragédia que nunca aconteceu na nossa cidade. O momento é de ação e ajudar. A única coisa que posso dizer é que é um dia muito trágico.
Esta não é a primeira vez que o Elevador da Glória descarrila. Da última vez, em 7 de maio de 2018, uma falha grave de manutenção fez com que veículo saísse dos trilhos, mas não tombou e nem houve vítimas. O serviço foi, no entanto, interrompido por mês.
‘Se desfez’
À SIC, Teresa d’Avó, que estava no local do acidente, conta que viu o momento em que o bonde passou “desenfreado” pela ladeira em que opera. Assim, segundo ela, ele bateu com “uma força brutal” num prédio e desfez-se.
— O elevador bateu com uma força brutal num prédio e desfez-se como uma caixa de papelão — disse d’Avó. — Foi com uma força muito grande, uma coisa impressionante. Não tinha qualquer tipo de freio.
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Ela também lembra que pessoas que estavam pela rua começaram a correr para o meio da avenida, “com medo que o bonde batesse noutro e chegasse na via”.
Também em entrevista à SIC, Fernando Nunes da Silva, especialista em engenharia e ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa, explica que uma possível causa para o acidente teria sido o rompimento de um cabo de tração, o que consequentemente fez com que o elevador perdesse o controle.
— Pelo que se consegue ver pelas imagens, o mais provável é que se tenha quebrado um cabo de tração, e ao quebrar não funcionou os freios que normalmente deviam funcionar numa situação destas — explicou.
A Carris, responsável pela gestão do Elevador da Glória, assegura que “foram realizados e respeitados todos os protocolos de manutenção”. Em comunicado, a empresa indica que foi feita a “manutenção geral, que ocorre a cada quatro anos, e que a última ocorreu em 2022”. Mas a “reparação intercalar, que é concretizada a cada dois anos, tendo a última sido em 2024”.
O Elevador da Glória
Inaugurado em 1885, o Elevador da Glória, além de um meio de transporte para a população local, é também uma atração turística que recebe diariamente centenas de passageiros. O acidente, porém, deixa uma série de dúvidas sobre a segurança e a manutenção da infraestrutura centenária, considerada monumento nacional desde fevereiro de 2002.
O Elevador da Glória, que pode transportar até 43 passageiros, liga a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto e é uma das principais atrações turísticas da capital portuguesa, transportando anualmente mais de três milhões de passageiros.
Fonte: O Globo