“Mexeu com o país errado”: brasileiros invadem as redes de Trump

A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos anunciada por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, desencadeou uma onda de protestos virtuais liderada por brasileiros nas redes sociais do presidente norte-americano e da mulher, Melania Trump. A medida veio acompanhada de uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual Trump classificou o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) como uma “caça às bruxas” e uma “desgraça internacional”.

A manifestação nas redes se espalhou com rapidez. Centenas de comentários com frases como “Respeite o Brasil”, “Brasil é soberano” e “Viva o Brics” passaram a aparecer não apenas em publicações recentes de Trump, mas também em postagens anteriores — muitas sem relação com a crise diplomática ou comercial. O mesmo ocorreu no perfil de Melania, onde frases como “mexeram com o país errado” e “deixem o Brasil em paz” passaram a figurar entre os comentários.

Em uma das publicações de Trump sobre uma visita ao Texas após as enchentes da semana anterior, o conteúdo foi tomado por manifestações políticas brasileiras. Já em um post de Melania anunciando um audiobook produzido por inteligência artificial, o padrão se repetiu. A falta de novas publicações após o anúncio da tarifa — feito em 9 de julho — levou os usuários brasileiros a retomarem posts antigos. No perfil de Melania, postagens de 19 e 27 de janeiro, 27 de abril e 22 de maio foram invadidas por mensagens críticas. No caso de Trump, das 39 publicações feitas desde 14 de junho, todas receberam comentários recentes relacionados ao Brasil.

Além da defesa da soberania nacional, muitos internautas atacaram diretamente Bolsonaro, réu no STF sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado. Diversos comentários pedem que ele seja preso e ironizam a tentativa de articulação com Trump para suavizar as consequências do processo judicial no Brasil.

“Jogo nivelado”

O episódio revela não apenas a repercussão negativa da tarifa entre brasileiros, mas também um desconforto evidente com a postura de Trump ao interferir, ainda que retoricamente, em um processo judicial em curso em outro país. A carta enviada a Lula, na qual Trump afirma que “este julgamento não deve ocorrer”, ampliou o alcance do conflito. Ao justificar a sobretaxa, Trump também alegou que o comércio entre os dois países “não é recíproco” e que o índice de 50% “é muito inferior ao necessário para ter o campo de jogo nivelado”.

Diante da reação nas redes, o gesto de Trump — que ecoa discursos bolsonaristas e sugere perseguição judicial — foi interpretado por muitos brasileiros como uma tentativa de interferência externa nas instituições do país. Até o momento, nem Trump nem Melania se pronunciaram sobre os protestos em suas redes. A movimentação, contudo, permanece visível e crescente — com brasileiros marcando presença até mesmo em postagens sobre o 4 de Julho e conflito dos EUA com o Irã, além de publicações sobre a aprovação de projetos de lei no Congresso americano.

Os comentários, majoritariamente em português, foram marcados por emojis da bandeira do Brasil e menções ao Brics. De acordo com especialistas ouvidos ao longo da última semana pelo Correio, o verdadeiro pano de fundo da imposição tarifária não tem relação direta com o julgamento de Bolsonaro no Supremo. “A reunião do Brics ocorrida na semana passada aqui no Brasil o governo Lula insinuou ser desnecessária a atrelação do dólar nos acordos comerciais entre os países, o que, obviamente, enfraquece toda a economia americana”, explicou o especialista em comércio exterior Felipe Bocayuva.

Fonte: Correio Braziliense

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