Com sua imagem desgastada no meio artístico, sobretudo, entre os que iriam se apresentar nesse último final de semana, no Festival Lollapalooza, o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por meio de seu novo partido, o PL, entrou com uma ação no TSE, para impedir que os artistas fizessem manifestação política durante o evento.
A decisão do ministro do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, Raul Araújo, foi favorável, mas o que poderia ser uma vitória para o bolsonarismo, se tornou um tiro no pé. Tudo, porque a advogada do partido, que entrou com a ação, simplesmente, errou ao informar o CNPJ e o e-mail do Lollapalooza no processo.
Dessa forma, a intimação do TSE foi parar numa empresa que não existe desde 2018, conforme os documentos do despacho.
Quando foi percebido o erro, como consta nos registros do site do TSE, o responsável pela Coordenadoria de Processamento, Daniel Vasconcelos Borges Netto, registrou que o endereço de correspondência e o e-mail era inexistente, assim seria inútil a intimação, já que o festival encerrou no domingo, 27 de março.
Por outro lado, os artistas, sabendo da decisão judicial, se uniram ainda mais, chegando a criar um movimento, liderado pelo youtuber, Felipe Neto: o “Cala boca já morreu”.
O youtuber se comprometeu a pagar a multa de R$50 mil aos artistas que se manifestassem. A cantora Anitta também se prontificou a pagar as multas. No entanto, com a lambança da assessoria jurídica do PL, nem foi necessário.
E o que se viu durante os dias de Lollapalooza, foi uma sequência de manifestação contra o presidente Bolsonaro, como Pablo Vittar fizera no 1º dia do evento; Emicida, Lulu Santos, a cantora internacional, Miley Cyrus (atração principal de uma das noites), Djonga, enfim, muitos artistas levantaram sua voz com a platéia para gritar um “Fora Bolsonaro!”.
A atitude que, no mínimo, deve ser questionada, por parte dessa decisão do TSE, quanto à liberdade de expressão em eventos populares, na verdade se tornou um estímulo ainda maior pela luta contra a censura e o atual governo.
Essa não foi a única vez que o presidente tentou censurar a classe artística. A Secretaria Especial de Cultura já rompeu patrocínio com diversos festivais, dentro da Lei Rouanet.
Em julho do ano passado, a Funarte emitiu relatório contra o Festival de Jazz do Capão, na Chapada Diamantina, aqui na Bahia. No relatório da Funarte, constava frases contra o racismo nas edições anteriores, o que para a Secretaria de Cultura era uma manifestação política.
No entanto, assim como o Lollapalooza, o tiro saiu pela culatra. O escritor Paulo Coelho desembolsou o valor do patrocínio e o evento aconteceu com a única condição que o autor de livros impôs: a de que o evento continuasse a sua luta contra o racismo.