O cantor e compositor baiano, Gilberto Gil tomou posse nesta sexta-feira, 08/04 na Academia Brasileira de Letras (ABL)
Ao dar posse, na semana passada, à atriz e dramaturga, Fernanda Montenegro e, agora, ao fantástico Gil, a Academia deixa claro o processo de renovação da confraria imprimido pelo seu atual presidente, jornalista Merval Pereira, substituindo monumentos da nossa cultura literária por artistas representantes de outras artes, como a música e o teatro. Uma bela e inteligente iniciativa que aproxima a enfadonha academia à população com a indicação de talentos populares reconhecidos no país e internacionalmente.
Gil é simplesmente uma sumidade, um raro compositor com uma produção cultural riquíssima tanto para a música como para a literatura. O rei das metáforas.
O artista é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. Gil foi eleito para a cadeira 20 da ABL em novembro do ano passado com 21 votos, sucedendo o acadêmico Murilo Melo Filho, que foi advogado, escritor e um dos grandes jornalistas brasileiros da segunda metade do século XX.
Em seu discurso de posse, Gil lembrou que é o primeiro representante da música popular brasileira a tomar posse na academia.
“Entre tantas honrarias que a vida generosamente me proporcionou essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a casa de Machado de Assis, um escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa, mesmo para quem a critica, a instância maior que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador cultural em nosso país”, afirmou o novo “imortal”.
“A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática”, disse ainda o compositor.
“Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos”, acrescentou.
“A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, efetivamente, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça”, disse ainda Gil.
A posse ocorreu no Petit Trianon, no Centro do Rio. A eleição de Gil para a Cadeira 20 da ABL foi em novembro do ano passado, quando o ícone da música brasileira recebeu 21 votos. A cadeira 20 da ABL tem como patrono Joaquim Manuel de Macedo, e o fundador foi Salvador de Mendonça. Também a ocuparam Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão, Aurélio de Lyra Tavares e Murilo Melo Filho, que faleceu em 2020.
O artista é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. O outro imortal é o escritor e professor Domício Proença Filho, que foi presidente da academia em 2016 e 2017.
Trajetória
Gilberto Gil é um cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical cuja obra se confunde com a própria música brasileira. Entre 1998 e 2019, ele recebeu 9 prêmios Grammys, segundo a sua página oficial. Em 1999, foi nomeado “Artista pela Paz”, pela Unesco.
São dele os clássicos “Aquele Abraço”, “Vamos Fugir”, “A Novidade”, “Cálice”, “Esotérico”, “Divino Maravilhoso”. Ele tem uma extensa discografia com mais de 60 álbuns e quase 4 milhões de cópias vendidas.
Gilberto Gil também escreveu e publicou livros sozinho e em parceria com outros autores. Entre as obras estão “Gilberto bem Perto”, “Disposições Amoráveis” e “Cultura pela palavra: artigos, entrevistas e discursos dos ministros da cultura 2003-2010”.
Em 2001, Gil foi nomeado embaixador da ONU para agricultura e alimentação. Ele também foi ministro da Cultura do Brasil, entre 2003 e 2008, durante dois mandatos do ex-presidente Lula.
Por Informações: O Globo