Uma pesquisa coordenada pelo professor Caio Vinícius Gabrig Turbay, do Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAM), reforça a importância da gestão dos rios que deságuam na costa de Porto Seguro para a manutenção dos recifes de corais e do ambiente marinho. As informações estão no artigo The provenance of terrigenous mud on reefs in Royal Charlotte Bank, Bahia, Brazil, publicado na revista Brazilian Journal of Geology e assinado pelo professor Caio Vinícius e pelos pesquisadores Marcos Tadeu D’Azeredo Orlando (UFES), Carlos Henrique Figueiredo Lacerda (Instituto Coral Vivo) e Eduardo Baudson Duarte (Instituto Federal do Espírito Santo – Nova Venécia).
A investigação feita pelos pesquisadores ajuda a entender os fluxos pelos quais os rios trazem material sedimentar lamoso até a costa. O professor Caio Vinícius explica que esse estudo é resultado de uma parceria entre o Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAM/UFSB) e a Rede de Pesquisas Coral Vivo. A colaboração ocorre desde 2018 na forma de apoio aos trabalhos de campo, apoio material (compra de equipamentos e insumos), além de workshops entre membros da rede, com troca de experiências.
“Especificamente com relação a esta pesquisa, foi dado suporte em campo, com visita às áreas recifais, mergulhos para instalação das armadilhas de sedimentos e monitoramento ambiental, compra de materiais e insumos. O pesquisador Carlos Lacerda, do Coral-Vivo, foi o apoio para a parte de campo e também ajudou em questões envolvendo a biologia dos recifes, principalmente com relação à ecologia dos corais. No âmbito da UFES, ocorre parceria desde 2011, com o professor Marcos Tadeu Orlando e sua equipe, responsáveis pelas análises de difração de raios-x, que auxiliaram na determinação dos minerais presentes nas lamas”, afirma o professor Caio Vinícius.
Usando técnicas específicas e alguns elementos químicos que agem como rastreadores da origem dos sedimentos que vêm dos rios e chegam ao mar, os cientistas conseguiram entender quais os cursos d’água que mais contribuem para as lamas que chegam à área de estudo. O estudo mostrou uma sazonalidade no aporte de sedimentos por alguns rios, tendo o Jequitinhonha como contribuinte frequente para os depósitos lamosos nos recifes. O rio Buranhém leva sedimentos para essas áreas quando sob a influência de frentes frias vindas do sul do país. O trabalho de coleta e análise de dados também mostrou que é preciso aprofundar a investigação para saber que poluentes podem estar vindo junto das lamas, contaminando os recifes de corais e as comunidades de animais e plantas, incluindo espécies que o ser humano consome como alimento.
Dos rios aos recifes
Os resultados importam para a gestão das bacias hidrográficas e a conservação dos recifes e de todas as comunidades bentônicas marinhas associadas, como por exemplo, os fundos sedimentares. O impacto dessas lamas no ambiente, dependendo do que elas trazem do continente, pode inclusive influenciar nos alimentos e na economia da região, explica o professor Caio Vinícius: “Repare que, culturalmente, consumimos muitos frutos do mar, e muito do que consumimos, principalmente peixes e crustáceos, estão relacionados a ecossistemas recifais. Alguns metais pesados e poluentes orgânicos possuem comportamento acumulativo na cadeia trófica, na qual o ser humano, em muitos casos, acaba sendo o consumidor final. Além disso, as áreas recifais e os fundos relacionados são regiões importantes de captura do dióxido de carbono atmosférico, um dos principais gases responsáveis pelas mudanças climáticas atuais. Nas regiões recifais e fundos relacionados, como nos bancos de algas, o dióxido de carbono da atmosfera é transformado em calcário. Essas comunidades são muito sensíveis e precisam ser protegidas. Assim, é fundamental entendermos de onde provém os sedimentos e o que eles possuem”.
O estudo mostrou que, até onde se sabe, a principal fonte de sedimentos para a plataforma marinha interna, até a altura de Porto Seguro, é o rio Jequitinhonha. O rio Buranhém contribui com sedimentos durante a entrada de frentes frias vindas do sul e provavelmente para a plataforma marinha ao sul de Porto Seguro. De acordo com o professor Caio Vinícius Turbay, a influência se dá principalmente por fatores climáticos e oceanográficos, como ventos e ondas: “Durante o outono e o inverno, surgem as frentes frias, com ventos do quadrante sul, que também geram ondas vindas principalmente de sudeste. Com isso, os sedimentos que normalmente são distribuídos pelos ventos alísios e ondas vindas de nordeste, com movimentação próxima à costa predominantemente para sul, invertem parcialmente seu movimento e durante a passagem dessas frentes, passam a ir para norte e nordeste”.
O professor Caio Vinícius relata que o estudo publicado emprega e aprimora uma metodologia testada pela equipe: “Fizemos este teste metodológico com as lamas nos recifes, entre os anos de 2019 e 2020 e ele funcionou muito bem. Em abril de 2022 e em setembro deste ano, realizamos mais três campanhas de estudo sobre o Banco de Royal Charlotte, com a Rede de Pesquisas Coral-Vivo e com os estudantes do Bacharelado em Oceanologia da UFSB, no Navio Ciências do Mar IV. Coletamos mais amostras da lama na parte interna do banco e principalmente ao sul do Rio Buranhém, que era uma área que ainda não conhecíamos. Vamos estender a mesma metodologia para as amostras dessas áreas”. O objetivo agora é ampliar o estudo para identificar possíveis poluentes inorgânicos presentes nas lamas, principalmente metais pesados. “Assim, sabemos de onde os sedimentos provêm; precisamos agora conhecer a qualidade deles. Nosso foco, a partir de agora, será o reconhecimento das fontes de sedimentos para a plataforma marinha ao sul de Porto Seguro e a identificação dos contaminantes inorgânicos que esses rios trazem para o Banco de Royal Charlotte”, adianta o pesquisador.
Escrito por Heleno Rocha Nazário
registrado em: UFSB Ciência