Em uma decisão drástica e carregada de simbolismo político, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras. A medida, que pegou diplomatas e economistas de surpresa, foi imediatamente interpretada como uma interferência direta no conturbado cenário político brasileiro — e, sobretudo, como um gesto de apoio explícito à extrema direita nacional, encabeçada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo analistas, a decisão de Trump atende a um apelo direto de lideranças bolsonaristas, que veem no atual presidente americano um aliado estratégico na guerra política travada no Brasil. O pano de fundo dessa movimentação internacional é o avanço dos julgamentos no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral contra Bolsonaro, seus aliados e até familiares, por envolvimento na tentativa de golpe de Estado que sacudiu o país após as eleições de 2022.
Com condenações severas e a inelegibilidade no horizonte, a extrema direita brasileira tenta articular, inclusive no exterior, formas de pressionar e desestabilizar o Executivo liderado por Luiz Inácio Lula da Silva. A tarifação imposta por Trump, nesse contexto, surge como uma tentativa de intimidação contra o governo e contra o Judiciário, reforçando a já acirrada polarização nacional.
Um presidente contra o Brasil
O contraste não poderia ser mais gritante. Enquanto o presidente Lula enfrenta uma dura batalha no Congresso Nacional, de maioria conservadora, para aprovar medidas que taxem os super-ricos e equilibrem a distribuição de renda no país, a família Bolsonaro articula, nos bastidores, ações junto ao governo Trump que penalizam diretamente o povo brasileiro.
Economistas alertam para os efeitos devastadores da medida norte-americana. O aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros compromete a competitividade de setores inteiros — especialmente o agronegócio, siderurgia, calçados e manufaturados — que têm nos Estados Unidos um de seus principais mercados. O impacto poderá ser sentido em queda de exportações, retração industrial, desemprego e inflação.
“É uma jogada política de altíssimo risco para o Brasil. Trump está usando o poder econômico dos EUA para intervir no nosso processo democrático, em favor de um grupo que está sendo julgado por ameaçar a ordem institucional”, afirma um especialista em relações internacionais da UnB.
A supremacia autoritária e o cerco à democracia
A postura de Donald Trump repete um padrão já conhecido: o uso de medidas econômicas coercitivas para atingir objetivos políticos, dentro e fora de seu país. A retórica da supremacia americana, a desconfiança nas instituições democráticas e o alinhamento com grupos extremistas já foram vistos em outras ocasiões — agora, esse arsenal se volta contra o Brasil.
O governo brasileiro ainda não respondeu oficialmente à decisão americana, mas interlocutores do Itamaraty falam em “grave afronta à soberania nacional” e estudam recorrer a instâncias multilaterais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio), além de buscar apoio de países aliados para denunciar o caráter político da medida.
Enquanto isso, o cenário interno brasileiro permanece tenso. A polarização cresce, o discurso antidemocrático se intensifica e agora ganha eco além das fronteiras, com o respaldo do homem mais poderoso da extrema direita mundial. A ofensiva internacional bolsonarista, chancelada por Trump, coloca em risco não apenas a economia, mas o próprio equilíbrio institucional do país.
Em meio a esse tabuleiro globalizado, a democracia brasileira mais uma vez se vê pressionada por forças que não aceitam o veredito das urnas — e que agora recorrem ao exterior para reverter, à força, o curso da história.