Risco de extinção: jumento brasileiro perdeu 94% da população

O jumento brasileiro, uma espécie única no mundo, corre sério risco de extinção. O país sofreu um declínio de 94% da sua população nas últimas três décadas — para cada 100 animais, na década de 1990, restam apenas seis hoje. Em 1996, existiam 1,3 milhão de jumentos, em 2025 esse número caiu para aproximadamente 78 mil, segundo FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Agrostat — sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro, mantido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A ONG britânica The Donkey Sanctuary, que apresenta o relatório “Jumentos Roubados, Futuros Roubados” no 3º Workshop Internacional – Jumentos no Brasil: Um Futuro Sustentável, em Maceió (AL), entre hoje (26/6) e sábado (28), na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), destaca que o principal fator para a diminuição alarmante desses animais é a exportação internacional por demanda chinesa da pele do animal para produção do eijao, produto medicinal tradicional chinês que é feito com o colágeno da carcaça do jumento. A entidade alerta, porém, que já existem pesquisas que mostram uma maneira de conseguir esse colágeno sem matar o animal, por meio da agricultura celular.

Entre 2018 e 2024, na Bahia — único estado com três frigoríficos licenciados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) para o abate dos animais — foram mortos cerca de 248.000 jumentos, segundo o Ministério da Agricultura. O Ministério Público do estado informa, no entanto, que muitos jumentos são transportados ilegalmente no país, e até 20% deles morrem antes mesmo de chegar aos abatedouros, devido a maus-tratos, exaustão durante o transporte, privação de água, comida e atendimento veterinário.

Ainda de acordo com a The Donkey Sanctuary, cerca de 5,9 milhões de jumentos são abatidos todos os anos ao redor do mundo. O relatório lançado hoje em Alagoas, em evento para discutir soluções viáveis para o futuro da espécie, documenta os impactos econômicos, sociais e ambientais do comércio global de peles – especialmente sobre mulheres e crianças em comunidades rurais na África. O encontro também lança no país a campanha global Stop The Slaughter ou fimdoabate.com.br.

Existem dois projetos de lei que visam proibir o abate e exportação do jumento — um no Congresso Nacional (PL nº 2.387/2022), de autoria do deputado federal Ney Leprevost (União-PR), e outro na Assembleia Legislativa da Bahia (PL nº 24.465/2022), de autoria do deputado estadual José de Arimatéia (Republicanos-BA). O primeiro PL citado aguarda votação em plenário após aprovação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara.

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