O novo rosto do imperialismo americano: bombardeios, medo e geopolítica sob o pretexto do combate ao tráfico na América do Sul

Sob o discurso de “combate ao narcotráfico internacional”, os Estados Unidos voltam a exibir seu braço mais temido e controverso: o poder militar, agora voltado contra países da América do Sul. Nos últimos meses, operações armadas e ataques a embarcações civis e suspeitas, sem qualquer tipo de abordagem ou notificação prévia, têm sido registrados tanto no Mar do Caribe quanto no Mar do Pacífico — ações que violam abertamente o direito internacional e têm espalhado pânico entre populações e autoridades locais, especialmente na Venezuela e na Colômbia.

Essas incursões, executadas sob a justificativa de enfraquecer o tráfico internacional de drogas, escancaram uma estratégia geopolítica que resgata velhas práticas imperialistas, agora revestidas de moralismo e discurso de segurança global. Em vez de cooperação, o que se vê é intimidação, destruição e a imposição da força, em uma clara tentativa de reafirmar a hegemonia americana sobre o continente.

A política de Donald Trump, marcada pela guerra tarifária e pela imposição econômica a diversos países, já prenunciava essa ambição imperial, sustentada por uma crença quase messiânica de que os EUA deveriam ocupar uma posição única, central e inquestionável no mundo. O fracasso econômico e diplomático dessa postura levou à adoção de uma nova bandeira de dominação: o combate ao tráfico internacional — um argumento conveniente para legitimar ações militares unilaterais, principalmente em territórios latino-americanos.

As consequências são visíveis: bombardeios no Caribe, operações aéreas e navais não autorizadas, e um estado de tensão permanente entre governos da região. Na Venezuela e na Colômbia, onde a presença militar americana já é perceptível, a população vive sob medo constante, e dirigentes locais denunciam o avanço de uma política de coerção que beira o terrorismo de Estado.

Esse cenário acende o alerta para outros países da região. Equador, Bolívia, Peru e até o Brasil correm o risco de se tornarem novos alvos dessa estratégia intervencionista. No caso brasileiro, o contexto interno de violência urbana e guerra contra facções criminosas oferece o pretexto perfeito para que os EUA intervenham sob o argumento de “assistência militar”.

As facções brasileiras, armadas até os dentes, com seu poder econômico, financeiro e político consolidado, representam um fenômeno complexo que o próprio Estado brasileiro não conseguiu controlar. Tal vulnerabilidade pode, no futuro, abrir espaço para operações estrangeiras, sob o mesmo disfarce “humanitário” e “antitráfico” já aplicado em outros países.

Não seria improvável imaginar — como já aventado por parlamentares ligados à extrema direita — tropas de elite americanas atuando discretamente em território nacional, em áreas estratégicas como a Baía de Guanabara. Essa possibilidade, mencionada de forma irresponsável por aliados e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, revela o quanto o país pode estar exposto a manobras de influência e submissão militar.

O que se observa, portanto, é uma escalada silenciosa e perigosa do imperialismo americano, que volta a se consolidar não por meio de tratados ou sanções, mas pela força bruta e pelo medo. Um processo que ameaça não apenas a soberania de países como Venezuela e Colômbia, mas toda a América Latina, que volta a ser tratada como quintal estratégico dos Estados Unidos — agora, sob o rótulo conveniente de “guerra ao tráfico”.

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