A aprovação da chamada PEC da Blindagem, nesta terça-feira (16/09), com um placar de 353 votos a favor e apenas 133 contra, é mais do que uma derrota para a democracia: é um escárnio. A Câmara dos Deputados, que deveria ser a Casa do Povo, agiu como um sindicato de luxo, unindo-se em torno de seus próprios interesses e deixando claro que, quando o assunto é proteger privilégios, a união supera qualquer divergência ideológica.
Não se trata apenas de corporativismo. É um projeto de impunidade. Num momento em que o país ainda digere a histórica condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, a reação da Câmara soa como retaliação direta ao Judiciário. Um recado claro: “se o STF pune, blindamo-nos”. Assim, os parlamentares buscam se colocar acima da lei, como se fossem cidadãos de primeira classe.
Mais escandaloso ainda é que a blindagem se estenda a presidentes de partidos, figuras que não receberam um único voto popular, mas agora passam a desfrutar dos mesmos privilégios. Uma afronta à lógica democrática. Como aceitar que indivíduos escolhidos por arranjos internos de legendas sejam elevados ao patamar de intocáveis?
A PEC da Blindagem é, em essência, uma tentativa vergonhosa de institucionalizar a desigualdade. Enquanto o cidadão comum responde por seus atos, deputados e dirigentes partidários se concedem salvaguardas que os afastam da justiça e os transformam numa casta política protegida.
A mensagem que sai do Congresso é clara: não representamos vocês, representamos a nós mesmos. E, ao agir assim, os parlamentares dilapidam a já combalida confiança popular, aprofundam o abismo entre a política e a sociedade e confirmam a suspeita de que Brasília se tornou um feudo de privilégios.
O Brasil não precisa de blindagem para políticos. Precisa de representantes comprometidos com a verdade, com a justiça e com o povo. A aprovação dessa PEC é a confissão pública de que a Câmara prefere o caminho da autoproteção e da vergonha.